Sustentabilidade: Desafios de Convivência entre Humanos e Natureza[1].
Podemos
definir a Bíblia como sendo a Palavra de Deus dirigida à humanidade, mas não
apenas como mandamentos ou meio de santificação. Pois, por meio de suas páginas,
tanto nos livros do Antigo, quanto nos do Novo Testamento, podemos ter o
imenso prazer de conhecer ensinamentos sobre preservação ambiental. Ou seja, a
Bíblia pode nos ensinar tudo o que precisamos saber para ter e manter uma vida
saudável no planeta. Nesse sentido, sustentabilidade[2]
tem seu significado ligado à “espiritualidade” e, por esse motivo, a questão
ambiental deve estar no cerne da vida humana.
O aparecimento do ser humano na
Terra pode ser dado pela teoria
criacionista, Deus criador do universo, conforme narram os livros
bíblicos e pela teoria da evolução,
defendida pela ciência, o homem como resultado de um lento processo de
mudanças. Tomamos por base aqui a teoria criacionista com sua
fantástica história que revela Deus, em sua ação criadora, como o agricultor, o
jardineiro que cria e cuida do seu jardim e que, logo depois, cria o homem e a
mulher, os cria da própria terra, sinalizando que são uma coisa só. Estão
unidos para que a vida seja um processo de sustentabilidade.
Deus nos criou a sua
imagem e semelhança e deu a nós autoridade para cuidar da sua criação. Com
isso, mostrou a necessidade de preservar o meio ambiente e toda
espécie de vida. Deus quer que sejamos sustentáveis em nossas ações, para
tanto, devemos adquirir hábitos ecologicamente corretos. Esse é
o grande desafio a ser enfrentado por cada pessoa na construção de uma
sociedade justa e fraterna. Mas, Infelizmente, estamos longe de cumprir com
nosso compromisso, pois, nossa prática cotidiana caminha em direção contrária,
conforme denuncia nossa própria história.
Apesar de possuirmos uma
relação muito íntima com a terra, já que é por meio dela que adquirimos nosso
sustento, vemos na história cicatrizes profundas deixadas pelas lutas por terra.
Lutas, essas, que estão presentes desde os primórdios, conforme podemos conferir
no relato de (Gn 4, 1-16), onde Caim mata seu irmão Abel. Este fato nos mostra,
de maneira figurada, o rompimento entre o campo e a cidade[3].
Abel era um pastor de ovelhas que Deus se agradou da oferta e Caim era um
lavrador do qual Deus não se agradou da oferta. Caim, por seu ato, recebe o
castigo. Sai e vai habitar a terra de Node e lá conhece sua mulher que da à luz
a Enoque. Nesse clima surge a primeira cidade bíblica.
Ao longo da história da
humanidade a relação do homem com a terra foi de lutas e de conquistas que
causaram marcas profundas, sofrimentos, angústias e problemas ambientais
graves. No Brasil, por exemplo, a luta pela terra tem início com a chegada dos
portugueses que, arbitrariamente, tomaram posse das terras ocupadas pela
população originária e fizeram isso com extrema violência. Até os dias atuais
os problemas relacionados à terra não foram solucionados, ainda, temos os
grandes latifúndios improdutivos de um
lado e do outro trabalhadores sem terra querendo produzir e viver da terra. Porém,
nem tudo está perdido, o contrário também existiu e existe ainda, hoje. Vemos
algumas iniciativas que provam a possibilidade de uma convivência harmoniosa e
inteligente do humano com o planeta. E, portanto, partindo do princípio de que
a terra e toda criação, em sua diversidade, é obra de Deus, o
domínio da mesma não é poder exclusivo de alguns poucos, mas de todos. Já que,
não somos os donos dos bens da natureza e a terra é a morada comum da
humanidade.
A criação da
Terra e da Humanidade, narradas de forma poética no livro do Gênesis, tem seu
início quando Deus diz: "Façamos
o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves
do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam
sobre a terra” (Gn 1, 26-27). A relação dialética entre o ser
humano e natureza pressupõe uma existência e a sua sobrevivência, estabelecendo
ao longo da história relações de transformações do meio ambiente. Mas não de
transformações destrutivas ao meio ambiente, a relação ser humano e natureza se
estabelece através do trabalho, um trabalho que domina e transforma para
atender as necessidades individuais e coletivas (ARENDT, 1981)[4].
Mas o que vemos é a exigência de meio mais elaborado e tecnologicamente mais
avançado de desenvolvimento resultando em devastação e destruição dos espaços.
A maneira de organização da
sociedade capitalista moderna caracteriza um sistema de explorados e
exploradores da força de trabalho. A racionalização associada ao processo
industrial capitalista aniquila qualquer iniciativa de modo de organização
social digna para todos. O bem estar, o meio ambiente, os valores sociais e
éticos são rejeitados em nome do lucro máximo para a manutenção do capitalismo.
Neste sentido, alerta Boff (2011)[5]:
Os trabalhadores são considerados como
"recursos humanos" ou pior ainda "material humano" em
função de uma meta de produção. Como se depreende, a visão é instrumental e
mecanicista: pessoas, animais, plantas, minerais, enfim, todos os seres perdem
sua autonomia relativa e seu valor intrínseco. São reduzidos a meros meios para
um fim fixado subjetivamente pelo ser humano que se considera o centro e o rei
do universo, Este quer enriquecer e acumular bens para si.
Em uma de suas crises o modelo
capitalista buscou saída na globalização, ou seja, na
homogeneização da economia mundial, segundo seu modelo de desenvolvimento que
orienta a formação de sociedades que valorizem normas de eficiência para
sustentação econômica e tecnológica. As desigualdades geradas pelo sistema
capitalista e seus efeitos neoliberais geram problemas de exclusão social e de
acesso a terra as famílias pobres. Assim sendo, temos o desafio de falar em
desenvolvimento humano sustentável num mundo globalizado sob a égide do
capitalismo. De construir alternativas que tornem possível uma sociedade capaz
de satisfazer as necessidades atuais sem comprometer as gerações futuras,
garantindo a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente a todos.
A terra vem dando claros sinais de enfraquecimento e de morte nos últimos tempos. O papel dos profetas foi e sempre será de nos advertir quanto saber interpretar os sinais de Deus através dos fenômenos da natureza. Deus, como criador, preocupou-se da humanidade entender o processo de manutenção da vida na terra. Por isso, Francisco de Assis, Chico Mendes, entre tantos outros, cada um há seu tempo, mostraram que a exploração sustentável do planeta é de responsabilidade de todos para que as futuras gerações tenham vida e vida em plenitude junto a Mãe Terra.
[1] O tema apresentado é em homenagem ao Dia Mundial do Meio
Ambiente foi instituído no dia 5 de junho de 1972, durante a Conferência das Nações Unidas (ONU), sobre o Meio
Ambiente Humano, em Estocolmo. A data escolhida tem como objetivo principal
chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais
e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram
considerados, por muitos, inesgotáveis.
[2] O conceito de sustentabilidade
que vamos usar neste trabalho é o empregado por Leonardo Boff: “Toda ação
destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas
que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida
e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades
da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja
mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e
coevolução”. Faz-se necessário aqui salientar o conceito devido ao conflito
entre as várias compreensões do que seja sustentabilidade. Por exemplo, na
clássica definição da ONU, do relatório Brundland, (1987) sustentabilidade “é o
que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Já o conceito
mais comum e também jurídico está relacionado com a mentalidade,
atitude ou estratégia ecologicamente correta, na diversidade cultural,
viável a nível econômico e socialmente justa.
[3] Uma introdução
à Bíblia. Formação do povo de Israel. Volume 2. 2ª
ed. Ildo Bohn Gass (Org) RS: CEBI/Paulus 2011.
[5] BOFF, Leonardo. Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir. Junho de 2011. Disponível em: < http://leonardoboff.wordpress.com > Acesso em 21 de abril de 2014.
[i]
Professor, Especialista em Educação e Poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário