sexta-feira, 10 de abril de 2015

Bonhoeffer: quando o fim é o começo - Gleides - Cebi Nova Iguaçu

   Bonhoeffer: quando o fim é o começo


          Embora fosse primavera no hemisfério norte, fazia frio naquela manhã de abril quando o jovem pastor despiu-se e caminhou com passos firmes e serenos em direção à forca montada no pátio do campo de extermínio de Flossembürg, na Alemanha.
          Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, participava da resistência alemã anti-nazista e da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política de Hitler.
          Nascido em 4 de fevereiro de 1906, em  Breslau - Alemanha, em um lar abastado - seu pai era médico psiquiatra e professor universitário - decidiu-se pelo ministério pastoral aos 14 anos de idade. 
          Foi como pastor assistente em Barcelona, entre 1928-29, com a crise econômica que atingiu todo o mundo - a chamada Grande Depressão - que entrou em contato com a pobreza .
         De 1930-31 foi bolsista em Nova Iorque e conviveu com a comunidade negra do Halem. Vivenciou o racismo e a exclusão social.
          Todas essas experiências, somadas a situação de seu próprio país, levaram o jovem teólogo a repensar o papel da igreja e do cristão na sociedade e a ver a vida " sob a perspectiva daqueles que sofrem".
          De grande influência no seu pensar teológico, entre outros, destaca-se Karl Barth, seu professor na Universidade de Bonn.
          Luís Camuro¹ resume assim o comprometimento de Bonhoeffer:
              "Amou a igreja de seu tempo, sofreu com ela e por ela, mas também participou ativamente do destino de sua pátria, e quando viu que a sua igreja silenciou diante de tantas injustiças, que os cristão não levantavam suas vozes em favor 'dos irmãos mais fracos e indefesos de Jesus Cristo ( os judeus e os 200.000 considerados indignos de viver, entre eles os deficientes físicos e mentais, todos eles condenados a eutanásia, mais os milhares de ciganos, homossexuais e Testemunhas de Jeová levados para os campos de extermínio)' não calou e nem desistiu mesmo sabendo o risco que iria correr se fosse adiante pela causa. Consciente que o discípulo não está acima de seu mestre e nem o servo acima de seu senhor, não se conformou em ser um cúmplice dos crimes praticados pelo seu próprio povo, pagando assim um alto preço, o martírio aos 39 anos de idade."

          Constavam ainda de sua militância a questão ecumênica - tanto no plano do diálogo entre as religiões quanto no da elaboração teológica - e a construção da paz entre as nações. 
          Bonhoeffer foi morto em 9 de abril de 1945. Treze dias depois as tropas aliadas russas tomaram Berlim; em 30 de abril Hitler cometeu suicídio. Terminava a Segunda Guerra Mundial.
          Dentre suas obras sobre a Igreja, Ética e Discipulado estão várias poesias escritas na prisão.

         "Pois vem festa máxima no caminho para a eterna liberdade.
          Morte, destrói as fatigantes correntes e muralhas
          do nosso corpo passageiro e de nossa alma cega,
          para que finalmente vislumbremos o que nos é negado ver aqui.
          Liberdade, procuramos-te longamente em disciplina, ação e sofrimento.
          Morrendo, te reconhecemos e contemplamos agora, na face de Deus."

          Diante da sua vida comprometida com o Evangelho de Cristo e sua inconformidade com a realidade cruel e totalitária que sua nação vivia, me lembrei das palavras de outro poeta alemão, contemporâneo de Bonhoeffer:

          "... pois em tempo de desordem sangrenta,
               de confusão organizada,
               de arbitrariedade consciente,
               de humanidade desumanizada,
               nada deve parecer natural, nada deve parecer
                           impossível de mudar."
                                                                          Bertolt Brecht

                                                                           
                                                                      Gleides - Cebi Nova Iguaçu


¹. Presidente da SIB - Sociedade Internacional Bonhoeffer (Brasil)

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Teólogo Dietrich Bonhoeffer e seu plano p/ matar Hitler.
Dietrich Bonhoeffer Nascido na riqueza, Dietrich Bonhoeffer seguia para uma carreira brilhante como teólogo, até passar a ver a vida 'sob a perspectiva daq...
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2 comentários:

  1. Lindo testemunho de vida! Obrigada por compartilhar! Que o Cristo Ressuscitado revigore nossas forças para que possamos testemunhar nossa fé com a firmeza,a ousadia e a coragem desse jovem.

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  2. É desolador ver que as pessoas se calam diante de injustiças. Sabemos que elas têm tudo organizadinho na cabeça, mas que o medo as paralisa.Nós os desumanizados humanos temos um interruptor que se aciona para banalizar a violência, interruptor para nos fazer sentir menos ou eliminar o que nos contraria
    e aterroriza. Graças ao Ser que há pessoas humanas. Dietrich Bonhoeffer! PRESENTE!
    .

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