Bonhoeffer: quando o fim é o começo
Embora fosse primavera no hemisfério norte, fazia frio naquela manhã de abril quando o jovem pastor despiu-se e caminhou com passos firmes e serenos em direção à forca montada no pátio do campo de extermínio de Flossembürg, na Alemanha.
Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, participava da resistência alemã anti-nazista e da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política de Hitler.
Nascido em 4 de fevereiro de 1906, em Breslau - Alemanha, em um lar abastado - seu pai era médico psiquiatra e professor universitário - decidiu-se pelo ministério pastoral aos 14 anos de idade.
Foi como pastor assistente em Barcelona, entre 1928-29, com a crise econômica que atingiu todo o mundo - a chamada Grande Depressão - que entrou em contato com a pobreza .
De 1930-31 foi bolsista em Nova Iorque e conviveu com a comunidade negra do Halem. Vivenciou o racismo e a exclusão social.
Todas essas experiências, somadas a situação de seu próprio país, levaram o jovem teólogo a repensar o papel da igreja e do cristão na sociedade e a ver a vida " sob a perspectiva daqueles que sofrem".
De grande influência no seu pensar teológico, entre outros, destaca-se Karl Barth, seu professor na Universidade de Bonn.
Luís Camuro¹ resume assim o comprometimento de Bonhoeffer:
"Amou a igreja de seu tempo, sofreu com ela e por ela, mas também participou ativamente do destino de sua pátria, e quando viu que a sua igreja silenciou diante de tantas injustiças, que os cristão não levantavam suas vozes em favor 'dos irmãos mais fracos e indefesos de Jesus Cristo ( os judeus e os 200.000 considerados indignos de viver, entre eles os deficientes físicos e mentais, todos eles condenados a eutanásia, mais os milhares de ciganos, homossexuais e Testemunhas de Jeová levados para os campos de extermínio)' não calou e nem desistiu mesmo sabendo o risco que iria correr se fosse adiante pela causa. Consciente que o discípulo não está acima de seu mestre e nem o servo acima de seu senhor, não se conformou em ser um cúmplice dos crimes praticados pelo seu próprio povo, pagando assim um alto preço, o martírio aos 39 anos de idade."
Constavam ainda de sua militância a questão ecumênica - tanto no plano do diálogo entre as religiões quanto no da elaboração teológica - e a construção da paz entre as nações.
Bonhoeffer foi morto em 9 de abril de 1945. Treze dias depois as tropas aliadas russas tomaram Berlim; em 30 de abril Hitler cometeu suicídio. Terminava a Segunda Guerra Mundial.
Dentre suas obras sobre a Igreja, Ética e Discipulado estão várias poesias escritas na prisão.
"Pois vem festa máxima no caminho para a eterna liberdade.
Morte, destrói as fatigantes correntes e muralhas
do nosso corpo passageiro e de nossa alma cega,
para que finalmente vislumbremos o que nos é negado ver aqui.
Liberdade, procuramos-te longamente em disciplina, ação e sofrimento.
Morrendo, te reconhecemos e contemplamos agora, na face de Deus."
Diante da sua vida comprometida com o Evangelho de Cristo e sua inconformidade com a realidade cruel e totalitária que sua nação vivia, me lembrei das palavras de outro poeta alemão, contemporâneo de Bonhoeffer:
"... pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural, nada deve parecer
impossível de mudar."
Bertolt Brecht
Gleides - Cebi Nova Iguaçu
¹. Presidente da SIB - Sociedade Internacional Bonhoeffer (Brasil)
Para saber sua biografia completa: Teólogo Dietrich Bonhoeffer e seu plano p/ matar Hitler.
Lindo testemunho de vida! Obrigada por compartilhar! Que o Cristo Ressuscitado revigore nossas forças para que possamos testemunhar nossa fé com a firmeza,a ousadia e a coragem desse jovem.
ResponderExcluirÉ desolador ver que as pessoas se calam diante de injustiças. Sabemos que elas têm tudo organizadinho na cabeça, mas que o medo as paralisa.Nós os desumanizados humanos temos um interruptor que se aciona para banalizar a violência, interruptor para nos fazer sentir menos ou eliminar o que nos contraria
ResponderExcluire aterroriza. Graças ao Ser que há pessoas humanas. Dietrich Bonhoeffer! PRESENTE!
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