Cristianismos
Originários
Comunidade
Como Comunhão Das Diferenças: Unidade E Diversidade Dos Membros Do Corpo De
Cristo Em 1°Corintios 12,1-11
Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos
cansamos de pedir a sua misericórdia.
Aquele que nos convidou a perdoar “setenta vezes sete” (Mt 18, 22) dá-nos o exemplo:
Ele perdoa setenta vezes sete. Papa Francisco - Exort.
Ap. Evangelli Gaudium
A teologia tem a função de responder, à luz da revelação divina, e a
fé cristã é a razão da esperança que há em nós (1° Pd 3,15-16). Por isso, o ponto de
partida deve ser a Sagrada Escritura, que é “a
alma da teologia” (DV 24[1];
VD 31[2]).
Nossa tarefa neste artigo é interpretar um texto do apóstolo Paulo,
precisamente, a perícope de 1° Cor 12,1-11 da Bíblia Pastoral:
V.1:
|
Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero
que vocês fiquem na ignorância.
|
V.2:
|
Vocês sabem que, quando eram pagãos, se
sentiam irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos.
|
V.3:
|
Por isso, eu declaro a vocês que ninguém, falando
sob a ação do Espírito de Deus, jamais poderá dizer: “Maldito Jesus!” E
ninguém poderá dizer: “Jesus é o Senhor”! A não ser sob a ação do Espírito
Santo.
|
V.4:
|
Existem dons diferentes, mas o Espírito é o
mesmo;
|
V.5:
|
diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo;
|
V.6:
|
diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus
que realiza tudo em todos.
|
V.7:
|
Cada um recebe o dom de manifestar o
Espírito para a utilidade de todos.
|
V.8:
|
A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria;
a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito;
|
V.9:
|
a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro
ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas;
|
V.10:
|
a outro, o poder de fazer milagres; a outro,
a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar
em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar.
|
V.11:
|
Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza
tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer.
|
A comunidade de Corinto tem várias características semelhantes ao
nosso contexto eclesial pastoral. É como se estivéssemos nos vendo no próprio
espelho. Principalmente no que diz respeito ao caráter da Igreja de Corinto: uma realidade carismática dissociada da realidade
comunitária da Igreja de Cristo, que já naquele tempo causava estranheza e
exigia uma orientação, para que houvesse uma ordenação dos fenômenos a Cristo,
para frutificarem em amor autêntico. As pistas indicativas do Apóstolo Paulo
aos coríntios iluminam nossa reflexão e nos motivam a responder e contribuir
com a situação pastoral desafiante.
A perícope[3] de
1° Cor 12,1-11: traz uma cristologia dinâmica onde “Jesus é o Senhor”, um alicerce a ser construído a partir da “Trindade gera a
comunidade”.
Esta perícope é o ponto de partida e fundamento para o apelo que Paulo
faz à unidade, à caridade e ao uso adequado dos carismas em prol da comunidade. Ela afirma com exatidão a clara intenção do autor sagrado em
demonstrar critérios para distinguir os falsos carismáticos, que em sua
essência rejeitam o senhorio de Jesus Cristo, bem como sua aceitação e a
exclusão ou presença do Espírito.
A redescoberta do Espírito Santo na vida pastoral deve continuar
gerando frutos fecundos e eficazes, continuando a missão de proclamar que “Jesus é o Senhor” (v.1-3) [4],
que só se realiza no Espírito Santo.
A perícope centrada na origem única dos carismas, apesar de sua
pluralidade: é o mesmo Espírito que os distribui aos fiéis, sem discriminação,
e para a utilidade comum da Igreja (v. 4-11) [5].
Este artigo será desenvolvido a partir do texto de 1° Cor 12,1-11. Seu
contexto maior de 1° Cor 13-14 será referido sempre que necessário para
esclarecer e completar alguma argumentação que possa orientar os passos
exegéticos aqui tratados que são: análise de conteúdo; a análise teológica e a
atualização pastoral.
Nosso próximo artigo, falaremos sobre a “Igreja de Corinto: realidade carismática
dissociada da realidade comunitária da Igreja de Cristo (v.1-3)”.
Valdeci de Oliveira Biro
Pós-Graduado em Assessoria Bíblica Centro de
Estudos Bíblicos
Escola
Superior de Teologia Bíblica Luterana de São Leopoldo-RS
Notas
Bibliográficas
[1] Documentos do Concílio Ecumênico
Vaticano II: Constituição Dogmática Dei
Verbum sobre a
Revelação Divina. São Paulo: Paulus, 2001,
p.9.
[2] Exortação Apostólica
Pós-sinodal: Verbum Domini. Libreria
Editrice Vaticana: Cidade Do Vaticano, 2010, p.55.
[3] PERÍCOPE. Delimitar o texto significa “estabelecer limites para cima e
para baixo, ou seja, onde ele começa e onde ele termina. O trecho resultante
dessa delimitação recebe o nome de perícope”. SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de exegese bíblica. São
Paulo: Paulinas, 2000, p. 68.
[4] Comentário da Bíblia Pastoral, 2000. Cap.12,1-3: Na
efervescência carismática dos coríntios existem traços pagãos. Estes se reúnem
para cultivar o espetacular e o fascínio pelo sobrenatural impregnado de
mística pagã; isso acaba tornando-se verdadeiro ópio. Paulo adverte: nem todas
as manifestações de entusiasmo religioso provêm de Deus. Na mística cristã, o
primeiro critério para discernir os verdadeiros dons do Espírito é reconhecer
Jesus como Senhor.
[5] Comentário da Bíblia Pastoral, 2000. Cap.12,4-11 A
Trindade é a base sobre a qual a comunidade se constrói: nesta, toda ação
provém do Pai, todo serviço provém de Jesus e todos os dons (= carismas) provêm
do Espírito. Cada pessoa na comunidade recebe um dom, ou melhor, é um dom para
o bem de todos. Por isso, cada um, sendo o que é e fazendo o que pode, age para
o bem da comunidade, colocando-se a serviço de todos como dom gratuito. Desse
modo, cada um e todos se tornam testemunho e sacramento da ação, serviço e dom
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Paulo enumera apenas os carismas de
direção e ensino. A lista não é completa, pois cada pessoa é um carisma para a
comunidade toda. Cf. BARBAGLIO, Giuseppe. As
cartas de Paulo I. São Paulo: Loyola, 1989, p. 135.
Nenhum comentário:
Postar um comentário