domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional das Mulheres - João Crispim Victorio / CEBI- RJ - Campo Grande

Dia Internacional das Mulheres

João Crispim Victorio / CEBI-RJ - Sub-regional Campo Grande

Nos relatos bíblicos, do Antigo e do Novo Testamento, encontramos muitas ações de sabedoria, de resistência e de esperança referentes às mulheres. Sabemos, porém, que nesses textos pesam também os preconceitos e as discriminações contra as mulheres. Isso é um marco negativo presente na vida da humanidade e a mulher em razão disso sofreu grandes perdas. Já que ao longo da história, elas estiveram sempre subjugadas às vontades dos homens devido a nossa formação social, milenar, baseada no sistema patriarcal. Cito apenas alguns exemplos, a partir do início de tudo. Não por acaso, num relato da criação Deus criou Eva (mulher) das costelas de Adão (Homem) (Gn 2:21-23), isso é uma demonstração clara de que Deus criou a mulher para estar lado a lado com o homem.

Seguimos com Sara, mulher de personalidade vigorosa e de vontade própria. Foi hábil, decidida e perseverante na fé. Não desistiu dos seus sonhos. Outra mulher que merece destaque é Débora, dona-de-casa, profetisa e juíza em Israel. Ocupou um cargo político com excelência. Débora traçou estratégias de batalha e conquistou muitas vitórias para Israel (Jz 4:4-10). Foi a libertadora do povo hebreu em tempos de guerra contra os cananeus.

Lembremos-nos da judia Ester. Criada por um parente, a órfã Ester foi a rainha mais importante que Israel teve (Est 2:15-18). Sábia, não se desesperava para tomar decisões. Destemida e ousada de fé admirável, não teve medo de agir. Ester era humilde, em vez de se mostrar a dona da razão, procurava respeitar a opinião dos outros (Est 4:15-17; 7:3-4). Outra figura marcante foi Rute. Pois viveu como estrangeira junto a um povo que possuía hábitos culturais e sociais que não eram os seus. Um povo que estava naquele momento se reencontrando e resgatando suas origens a fim de purificar sua etnia. Rute, portanto, teve que agir com sabedoria, com prudência e humildade junto a sua família e a esse povo. Quando ficou viúva se apegou à sogra pronta para servi-la e acompanhá-la. Rute possuía as virtudes da amizade, da fidelidade, da dedicação e do desprendimento. “Aonde você for, eu também irei. Onde você viver, eu também viverei. Seu povo será meu povo, e seu Deus será o meu Deus”. (Rt 1:16). Esses relatos são apenas alguns exemplos de muitos que podemos encontrar no 1º (Antigo) Testamento.

No 2º (Novo) Testamento, temos muitos relatos com a importante participação das mulheres. Vamos nos ater aqui não nos relatos, mas em duas personagens: Maria, a mãe de Jesus (Mt 1:18-19) e Maria, chamada Madalena (Lc 8:1-3; 11:26; Mc 16:9). Essas duas mulheres, cada uma a sua maneira, representam a luta pelo direito a vida, a certeza de que é preciso estar organizado em comunidade e a necessidade de resistir sempre contra qualquer tipo de opressão e, particularmente no caso das mulheres, resistir também contra as imposições preconceituosas de uma sociedade patriarcal. Maria e Madalena tiveram papéis de extrema relevância na trajetória de vida de Jesus e na promoção de uma sociedade de justiça e de fraternidade, ou seja, na consolidação do Reino de Deus.

Podemos observar, por meio dos fatos históricos, relatados na Bíblia a luta de algumas mulheres pela libertação da submissão impostas a elas. Hoje, apesar de vivermos numa sociedade moderna, as coisas não são tão diferentes. Pois, a primeira experiência de preconceito sofrida pela mulher acontece na família, depois na escola e no trabalho. 

Em razão de tantas situações de preconceitos e de discriminação, as mulheres se uniram para conquistar respeito e direitos na família, no trabalho e, enfim, na vida. Essa história vem ganhar notoriedade no século XIX, mais propriamente em 1857, com a greve das operárias de uma fábrica têxtil na cidade de Nova Iorque. As operárias depois de presas à fábrica que trabalhavam, cerca de 130 mulheres, foram queimadas vivas. Elas reivindicavam melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária de 16 para 10 horas diárias e salários dignos.

Em 1903, profissionais liberais norte-americanas criaram a Women's Trade Union League. Esta associação tinha como principal objetivo ajudar todas as trabalhadoras a exigirem melhores condições de trabalho. Cinco anos mais tarde, em 1908, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque reivindicando o mesmo que as operárias no ano de 1857, mais o direito de voto. Caminhavam com o slogan "Pão e Rosas", em que o pão simbolizava a estabilidade econômica e as rosas uma melhor qualidade de vida.

Em 8 de março de 1910, na Dinamarca, aconteceu uma conferência internacional de mulheres, onde além de discutirem assuntos de seus interesses, decidiram oficializar a data da conferência, pelo fato de ter sido um marco na organização das mulheres, como uma homenagem àquelas mulheres que foram assassinadas de forma covarde e brutal pelos donos das fábricas têxtil em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas.

No Brasil, com a reforma da constituição federal de 1932, as mulheres brasileiras conquistaram alguns direitos trabalhistas, além do direito ao voto e a cargos políticos no executivo e no legislativo. Dessa época até os dias de hoje, houve alguns avanços na luta das mulheres por reconhecimento do seu valor intelectual e braçal, muitos transformados em lei na Constituição de 1988, outros depois da Constituição e outros caminham em processo no legislativo. Neste sentido, um avanço importante foi a aprovação da Lei Maria da Penha. Vitória das mulheres contra a violência praticada sem punição aos “machões”. Isso vem reforçar a importância da organização e da perseverança na luta contra todo tipo de preconceito e violência.

O dia 8 de março é uma data para ser comemorada como resgate dessas lutas e reconhecimento da dedicação e da entrega, muitas das vezes, da própria vida, de mulheres que não deixaram de se indignar com tantos preconceitos e discriminações. É também um convite à reflexão da vida humana, do papel de cada homem e de cada mulher na sociedade e do que é realmente necessário para uma vida justa e fraterna sem distinção de gêneros.

Março de 2015.

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