sábado, 27 de dezembro de 2014

Reino de Deus: o que é? Fernando Henriques - Cebi Méier

CEBI MÉIER
Comunidade Renato Cadore

Reino de Deus: o que é?

Fernando Henriques
coordenador

“E Jesus continuou dizendo: ‘O Reino de Deus é como um homem que espalha a semente na terra. Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece. A terra produz fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou’”. (Ev. Marcos 4, 26-29; edição pastoral)


    O Reino de Deus é como quando um homem lança a semente na sua terra. Enquanto dorme ou se levanta, de noite e de dia, a semente germina e cresce sem que ele saiba como (cf Marcos 4, 26-29). Jesus fala do reino para galileus pobres como ele, sem grande ilustração literária. Lavradores em sua maior parte. Acostumados a lidar com a terra. Jesus lhes fala utilizando imagens que eles conhecem muito bem: a semente jogada na terra, a germinação ainda misteriosa, o crescimento da planta, a floração, a espiga e o fruto que se faz maduro. É o tempo da ceifa, de colher o fruto da terra. Ninguém sabe realmente como todo o processo decorre, mas aqueles camponeses sabem que o seu trabalho aplicado à terra que o próprio Deus lhes deu assegura que a fome não será uma tormenta. Será festa no meio do povo. O mesmo acontece com o Reino de Deus. Já está atuando de maneira oculta e secreta. Só é preciso esperar que chegue a colheita. 
    A Boa Nova de Jesus foi a pregação da chegada do reinado de Deus, que ele mandou também seus discípulos anunciar. Para Jesus, o reino dos céus é a realização, aqui na terra, da vontade de Deus, que não é senão seu amor paterno, exigindo que nos tratemos como irmãos. Tal pregação leva Jesus a um radical questionamento da maneira formalista e egoísta em que estava sendo vivida a Lei de Moisés.
    O Reino é um presente precioso de Deus ao semeador. Mas é necessário que ele espalhe a semente, provisione água, cuide da terra. Deus faz o trabalho fundamental, mas quer que participemos dele. Com o trabalho que podemos fazer, não mais. Deus está fazendo crescer a vida, a colheita chegará com toda certeza. Cabe-nos ter paciência, nós, semeadores de todos os tempos. 
    Com o Reino de Deus acontece o mesmo que acontece com um grão de mostarda. É menor que qualquer semente que se semeia na terra; mas uma vez semeada, cresce e se torna maior que todos os arbustos (cf. Marcos, 4, 31-32). Jesus parece nos dizer para não esperarmos uma chegada triunfante do Reino, mas a procurá-lo nas coisas menores, miúdas, perceber o Deus misericordioso atuando já nas coisas pequenas e insignificantes.  Os pequenos e excluídos deste mundo vão se tornar os incluídos do Reino de Deus.
    Com o Reino de Deus acontece a mesma coisa que acontece com o fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até que tudo ficou levedado (cf. Lucas, 13, 20-21). O pão ázimo era considerado o símbolo perfeito do puro e santo. Entretanto Jesus desconcerta seus ouvintes ao falar da levedura que atua na massa para forjar o Reino de Deus. Talvez percebamos então porque Jesus se movimentava em meio a cegos, paralíticos, leprosos, publicanos e prostitutas, gente que não era pura e santa. Ao falar assim para aqueles despossuídos, Jesus procura despertar neles a alegria e a decisão diante da chegada do Reino de Deus. 
    O Reino de Deus é como um tesouro escondido num campo. Um homem que o encontrou volta a escondê-lo e, por causa da alegria que sente, vai, vende tudo o que tem e compra o campo (cf. Mateus, 13,44). Um homem, pobre agricultor, escava em terra alheia e encontra um tesouro. Não pode perder aquela oportunidade. Não pensa duas vezes. Vende tudo e se apropria do tesouro. Ao contrário do jovem rico aquele lavrador vende todos os bens e adentra o Reino. Essa oportunidade não pode ser desperdiçada.
   O Reino de Deus assemelha-se a um mercador que anda à procura de boas pérolas e que, ao encontrar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que tem e a compra. (cf. Mateus, 13, 45-46). O homem não sofre de indecisão, age rápido, vende todos os bens e compra a pérola preciosa. O Reino de Deus é um tesouro oculto que escapa aos olhos de boa parte dos homens. Outras riquezas se fazem mais facilmente visíveis. Deus não impõe o seu Reino, mas o esconde, qual tesouro à espera para ser encontrado. “Assim fez para que buscassem a Deus e, talvez às apalpadelas, o encontrassem, a ele que na realidade não está longe de cada um de nós” (cf Atos 17, 27). O Reino está escondido para a maior parte de nós, mas não tão escondido que não o possamos achar. E quando isso se der, há que ter decisão. Comprar essa pérola tão valiosa.
   O Reino de Deus é como o pai que tinha dois filhos. E o mais moço disse-lhe: “Dá-me a parte dos bens que me cabem”. O pai repartiu as riquezas e o filho mais novo partiu a fim de viver a sua vida (cf Lc 15, 11-32). Este pai misericordioso, que também é mãe bondosa, espera ansiosamente pela volta daquele filho. E quando este volta há que se fazer festa. Aquele pai não julga o filho que dilapidara os bens, não pratica justiça, mas envolve-o de um enorme amor. Trata-o com misericórdia. Não usa de sua autoridade, mas de sua bondade. Aquele pai, que é verdadeira mãe, comove-se ao ver o filho humilhado e extenuado pela fome. Calça-lhe sandálias, veste-o com roupas dignas, põe-lhe um anel. Aquele filho estava morto e voltou à vida. Então chegamos nós. Nós, o filho mais velho. Não queremos amor e sim justiça. Na verdade queremos vingança. Aquele filho de nosso pai fez o que sempre quisemos fazer, mas faltou-nos a necessária coragem. Nós nos recusamos a entrar na casa paterna e desfrutar o banquete da vida. Nem todos queremos entrar no Reinado de Deus. Entretanto aquele pai, aquela mãe, nunca nos fecharão as portas. Amorosamente aguardarão que nos disponhamos a entrar. Nos convidarão quantas vezes se fizerem necessárias.
     Com o reino de Deus acontece o mesmo que acontece com um proprietário que saiu à primeira hora da manhã para contratar operários para sua vinha (cf Mt 20, 1-15). Ele não paga a cada um segundo a sua produção, isto é, o seu mérito. Ele paga aos trabalhadores segundo as suas necessidades. Os contratados da undécima hora eram os mais fracos, os mais velhos, os possivelmente doentes. Há lugar para eles no Reino, e um lugar que lhes dá dignidade. A bondade do proprietário passa por cima de qualquer suposta justiça. E essa bondade na verdade não prejudica ninguém. A todos ele dá o que cada um necessita para viver, ele atua com bondade e amor generoso para com todos. Na verdade no comportamento daquele proprietário a justiça e a misericórdia se entrelaçam. 

      O amor de Jesus pelos pobres e oprimidos não era um amor exclusivo. Era um indício do fato de que ele valorizava a humanidade e não o prestígio de qualquer pessoa. Os pobres e oprimidos não tinham nada que os recomendasse a não ser sua humanidade e seus sofrimentos, a sua miséria. Jesus também amava os ricos, não porque fossem pessoas especialmente importantes, mas porque elas também eram pessoas. Jesus queria que eles se despojassem de seus falsos valores, de sua riqueza e prestígio, a fim de se tornarem pessoas reais, pequenas, e assim poder adentrar o Reino.
     Na sociedade do tempo de Jesus, nascer mulher era uma desvantagem, um sinal de que as orações do pai e da mãe não tinham sido ouvidas por Javé. As mulheres, como as crianças, não contavam nada. Não podiam se tornar discípulas de um escriba, nem membros dos partidos político-religiosos dos fariseus, saduceus, essênios ou zelotas. O papel da mulher era serviço doméstico e maternidade. 
      Jesus se distinguiu entre seus contemporâneos, como alguém que dava às mulheres exatamente o mesmo valor e dignidade que aos homens. As mulheres eram pessoas e era só isso que contava para Jesus. 
      Do mesmo modo que os pobres não recebem a promessa da riqueza, mas da completa satisfação de suas necessidades, assim também os pequeninos não recebem a promessa de prestígio, mas o pleno reconhecimento de sua dignidade como seres humanos. Assim também as mulheres. Para realizar isso seria preciso reestruturar a sociedade de modo completo e radical.
      O reino de Deus será, portanto, uma sociedade na qual não haverá nenhum prestígio, nenhuma riqueza, nenhuma divisão de pessoas entre superiores e inferiores. Todos serão amados e respeitados, não devido à sua educação ou à sua riqueza, a seus antepassados, à sua autoridade, categoria, virtude ou qualquer outra realização, mas porque todos são igualmente pessoas.
   Aqueles que não possam suportar que mendigos, prostitutas, empregados, mulheres e crianças sejam tratados como seus iguais, aqueles que não possam viver sem se sentirem superiores, ao menos em relação a algumas pessoas, simplesmente não se sentirão em casa no reino de Deus. Esses vão querer se excluir do reino.

      As obras “Jesus aproximação histórica” (José Antonio Pagola, editora Vozes, Petrópolis, 4ª edição, 2011) e “Jesus antes do cristianismo” (Albert Nolan, editora Paulus, S.Paulo, 5ª edição, 2003) serão o texto-base para esta reflexão sobre o anúncio do profeta Jesus de Nazaré.
 
     A Comunidade Renato Cadore, o CEBI Méier, no mês de dezembro refletiu sobre o Reino de Deus.
Venha participar do nosso grupo em 2015!!!!

CEBI Méier (Casa Pe Dehon, sábados, de 8:30 às 12 horas). Retomaremos nossos estudos em março/2015.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

MENSAGEM DE NATAL DO CEBI-RJ E FELIZ 2015

Natal é a fé no amor divino embrulhado em forma humana.
Deus desceu os degraus do céu como um nenenzinho nos braços de sua mãe.
O Anjo Respondeu : “O Espírito Santo Virá Sobre Você , E O Poder Do Altíssimo Lhe Cobrirá Com Sua Sombra. Assim, aquele Que A De Nascer Será Chamado De Santo Filho De Deus[...] Pois Nada Para Deus É Impossível”  Lucas 1,35-37.

DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ NATAL E UM 2015 CHEIO DE SAÚDE E VIDA

MARIA DE FÁTIMA, MARIA BATISTA E VALDECI DE OLIVEIRA - BIRO
SECRETARIADO DO CEBI-RJ


Benção para o Advento e Natal

Luiz Carlos Ramos



Deus-menino,

Vem, visita-nos neste tempo de tanta decepção;
pacifica-nos nesse tempo de tanta violência;
santifica-nos nesse tempo de tanta corrupção.

Desarma nosso coração;
desarma nossa mente;
desarma nossas mãos...

Envia tua benção sobre nós,
neste Natal
e no advento de  cada novo dia.

Em nome da esperança,
e do Espírito da paz,
e da comunhão fraterna.
Amém


Fonte: Rede Liturgia - CLAI

domingo, 21 de dezembro de 2014

Lembrando o Pr. Ernesto Barros Cardoso - Gleides - CEBI Nova Iguaçu

               Lembrando o Pr. Ernesto Barros Cardoso




No dia 19 de dezembro completaram dezenove anos que Ernesto Barros Cardoso não está mais entre nós.

Não está?

Quando entrava na Igreja da Candelária, no Rio, para participar da missa em lembrança dos oito meninos mortos nos arredores da igreja - a "chacina da Candelária" fui surpreendida ao ouvir "Deus chama a gente pra um momento novo".

Ernesto estava presente.

"Momento Novo" é uma das canções mais apreciadas pelos encontros ecumênicos e populares. Ela expressa o que sentimos, pensamos e desejamos: estarmos juntos na mesma roda, em defesa da vida, respondendo ao chamado de Deus. Unindo o cordão enfrentaremos as forças que produzem a morte em nosso bairro, cidade, país ... Sem discriminar, excluir ou julgar os que entram nessa roda. - Vem!

Lembrar do pastor Ernesto é lembrar não só dessa e outras canções mas, principalmente, de sua dedicação em colocar a criatividade a serviço da espiritualidade, a sensibilidade a serviço da liturgia, a poesia a serviço da vida.

Nas oficinas de música por ele promovidas o povo descobria seu talento e vivenciava a alegria da criação coletiva.

Foi pastor na Igreja Metodista em Jundiaí, SP, e criador em 1991 da Rede de Liturgia do Conselho Latino-Americano de Igrejas - CLAI - que tem como objetivo oferecer às igrejas recursos litúrgicos como orações, reflexões e poemas.

É considerado um dos maiores expoentes da renovação litúrgica latino-americana.

Já doente, foi membro do grupo consultivo de AIDS do Conselho Mundial de Igrejas - CMI - criado para ajudar as igrejas a abordar os complexos temas relacionados a AIDS e a sexualidade.

O irmão Ernesto estará sempre presente toda vez que, através da música, da poesia e orações nos unirmos numa grande roda de comunhão e fraternidade.
                                                                                                            

                                                                                         Gleides - CEBI Nova Iguaçu








domingo, 7 de dezembro de 2014

Evangelho de João - Maria do Carmo Cardoso - Grupo do Extensivo 2014

Curso extensivo -07/12/2014

                                  Evangelho de João

                                                                    Maria do  Carmo Cardoso
                                                 Assessoria: Obertal

Contexto histórico-geográfico

O evangelho de João que é chamado "Evangelho do Discípulo Amado," ficou pronto por volta do ano 100, ou seja, mais ou menos 70 anos depois da ressurreição de Jesus.
Muitas coisas aconteceram neste período que influenciaram a maneira de viver a fé em Jesus e transmitir as suas palavras.
Acontecimentos entre os anos 30 e 100, primeiro século da caminhada das comunidades cristãs: abertura para os samaritanos e pagãos que não eram judeus,resultando num Concílio por causa das tensões, por volta dos anos 50. O Concílio dispensou a observância da Lei de Moisés e a circuncisão para se ter a salvação de Jesus. Diminuição das testemunhas oculares de Jesus e surgimento de novas lideranças que não o conheceram provocaram novas tensões e dificuldades. Revolta dos judeus da Palestina contra o império romano resultou na destruição de Jerusalém. Esta guerra gerou uma grande crise religiosa dentro do judaísmo, que atingiu as comunidades cristãs. A partir dos anos 60, começa a perseguição às comunidades ( Nero ), que vai exigir maior organização e unificação para poder resistir e  sobreviver. A partir dos anos 70 por causa da evolução do conflito houve a separação entre judeus e cristãos. Os judeus não aceitavam Jesus como Messias e os cristãos não aceitavam mais a observância cega da Lei de Moisés.  No término da redação deste evangelho, os cristãos eram expulsos das sinagogas ( Jo 9,34 ).
Este evangelho foi sendo escrito aos poucos, dentro das etapas da história das comunidades que se reuniam em torno do Discípulo Amado.
Estas comunidades viviam na Palestina, provavelmente na Galileia. Reuniam judeus, galileus, samaritanos e helenistas. Eram abertas e acolhedoras; recebiam pessoas sem perguntar de onde vinham. Muitos foram discípulos de João Batista.

Autor

O texto fala de um "Discípulo Amado" ( Jo 13,23; 18,15; 19,26; 20,2.8; 21,7.20.24 e talvez Jo 1,35-40;  19,35 ). A tradição posterior identificou-o como o apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago ( Mc 1,19 ), e atribui a ele a autoria do quarto evangelho.
Um exame atento leva à conclusão de que é um judeu que conhece com particularidades as instituições judaicas e os acidentes topográficos da Palestina e de Jerusalém, no tempo de Jesus.
Não se sabe quando as pessoas começaram a congregar-se em comunidades ao redor dele. Provavelmente foi depois da ressurreição de Jesus. Ele era uma figura chave para estas comunidades, pois lhes transmitia seu testemunho sobre Jesus (Jo 19,35; 21,24) a partir da sua relação de amizade com ele e da sua experiência de fé no Cristo ressuscitado( 1 Jo 1, 1-4 ). 
O autor afirma com insistência, para garantir a verdade do que narra,ter sido testemunha ocular dos fatos ( Jo 1,14; 19,35 ), como o afirma também o autor da primeira epístola atribuída a S. João, a qual é como introdução e o complemento do seu evangelho ( 1 Jo1,1-3 ).
É um discípulo de João Batista, que se tornou um dos primeiros discípulos de Jesus;  pertence ao colégio apostólico e foi o discípulo predileto de Jesus.
Objetivo e teologia
Fazer ressaltar a divindade de Cristo. Para tal fim convergem tanto a elevação dos discursos, reproduzidos com os mesmos milagres narrados e o prólogo que se refere ao " Verbo que se fez carne, e nós vimos a sua glória como filho unigênito do Pai" ( Jo 1,14 ).
Os antigos Padres chamavam este evangelho de Evangelho Espiritual; os gregos deram a João o título de Teólogo.
Embora dê maior destaque ao aspecto divino, ele não se desvia do aspecto humano de Jesus que combina em tudo com o dos sinóticos.
Propõe-se a confirmar a fé em Jesus como Messias e Filho de Deus ( Jo 20,30-31 ). Destina-se aos cristãos, na sua maioria vindos do judaísmo, com dificuldades acerca da condição divina de Jesus e com apego exagerado às instituições religiosas judaicas que se apresentam como superadas ( Jo1,26-27; 2,19-22; 7,37-39; 19,36 ).
João pretende dar a chave da compreensão do mistério da pessoa e da obra salvadora de Jesus, sobretudo através do recurso constante às Escrituras " investigai as Escrituras ( ... ) são elas que dão testemunho a meu favor" ( Jo 5,39 ). É o evangelho com menos citações explícitas do AT, mas é o que  o tem mais presente, procurando das mais diversas maneiras extrair-lhe toda a riqueza e profundidade de sentido em favor de Jesus como Messias e Filho de Deus que cumpre tudo o que acerca dele estava anunciado por palavras e figuras ( Jo 19,28.30 ).
Além dos temas fundamentais da fé e do amor, contém a revelação mais completa dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação  do Verbo, o Filho no seio do Pai, o Filho Unigênito que nos torna filhos ( adotivos ) de Deus,a doutrina sobre a Igreja ( Jo 10,1-8;  15,1-17; 21,15-17 ) e os sacramentos ( Jo 3,1-8; 6,51-59; 20,22-23) e sobre o papel de Maria, a "mulher", a nova Eva,  a Mãe da nova humanidade resgatada ( Jo 2,1-5; 19,25-27 ).

Esquema

O evangelho está dividido em cinco partes. As duas divisões centrais são o Livro dos Sinais ( Jo 1,19-11,54 ), onde a hora de Jesus ainda não chegou (Jo 2,4 ), e o Livro da   Glorificação ( Jo 13,1-20,31). Entre estas duas divisões há a Dobradiça ou Transição ( Jo 11,55-12,50), em que Jesus anuncia que sua hora está chegando ( Jo 12,23 ). O Prólogo ( Jo 1,1-8) e o Epílogo ( Jo 21, 1-25 ) foram acrescentados mais tarde como introdução e conclusão.
As duas partes centrais também apresentam divisões:
1.Livro dos Sinais: pode ser dividido em duas partes. Na primeira, Jesus inicia a revelação de si mesmo e do Pai, realizando sinais ( Jo 1,19-4,54 ). A segunda parte insiste na tomada de posição frente a esta revelação.
Enquanto Jesus continua realizando mais cinco sinais, surgem por um lado, o conflito com os judeus e, por outro lado, a exigência da fé para as pessoas que o seguem ( Jo 5,1-11,54).
2.Livro da Glorificação: pode ser dividido em três partes. A primeira parte traz o discurso de despedida, que na verdade, é um longo diálogo entre Jesus e seus discípulos ( Jo 13,1-14,31 ). A segunda parte é uma inserção de outros diálogos com os discípulos ( Jo15,1-16,33 ) e uma longa oração de Jesus ao Pai pela comunidade,chamado Testamento de Jesus ( Jo17,1-26 ). Na terceira parte seguem a consumação e glorificação da vida e da obra de Jesus ( Jo 18,1-20,31)
Em João não encontramos os muitos milagres e nem as palavras de Jesus, narrados nos sinóticos. Nele  os sete  milagres são chamados de "sinais" e alguns discursos se desenvolvem lentamente, repetindo sempre os mesmos temas-chave.
O evangelho é uma espécie de meditação, que procura mostrar o conteúdo da catequese existente em sua comunidade.
Seu escrito visa  despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que o ser humano tenha a vida ( Jo,30-31 ).
Para ele, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai aos homens.  Deus  ama a humanidade e quer dar-lhe vida. Jesus revela este amor e realiza a vontade do Pai, doando sua vida. João mostra isso através dos sete sinais apresentados na primeira  parte do evangelho, salientando aí a importância do compromisso da fé. Na segunda parte ele destaca a importância do amor, narrando o supremo sinal: a volta de Jesus ao Pai, através da morte e ressurreição.
A revelação de Deus em Jesus põe o mundo em julgamento. Os que vivem conforme a vontade de Deus aproximam-se de Jesus e o aceitam.Os outros se afastam dessa luz, rejeitando Jesus. João destaca as reações de aceitação, que levam à vida, e de recusa,que levam à morte. Recusa e hostilidade que levam Jesus à morte; aceitação que produz a primeira comunidade reunida em nome de Jesus.

Exegese

As comunidades por trás deste evangelho são formadas por grupos diferentes: judeus, de mentalidade aberta, com uma postura crítica em relação ao templo de Jerusalém ( Jo 2,13-22 ) e à lei ( Jo7,49-50 ); samaritanos ( Jo 4,1-42 )e pagãos ( Jo12,20 ) que se converteram, apesar de suas origens históricas e costumes culturais bem diferentes dos judeus.
Estas comunidades entenderam o seguimento de Jesus como uma vivência do amor concreto e solidário. Souberam relativizar os problemas de convivência entre pagãos e judeus que existiam em outras comunidades (At 15,5 ).  Estes grupos buscavam aprofundar a sua fé em Jesus como o enviado do Pai que quer fazer de todos irmãos e irmãs ( Jo15,12-14.17 ): "Na casa do meu Pai há muitas moradas !". Este aprofundamento facilitava o diálogo com outros grupos, pois eram comunidades abertas, tolerantes e ecumênicas ( Jo10,16 ).
A maior parte dos seus relatos é inédita em relação aos outros três evangelhos; o que sugere que o autor tivesse conhecimento do conteúdo deles ao escrever seu livro. Mais da metade dele é dedicado a feitos da vida de Jesus e as suas palavras nos seus últimos dias.
O evangelho é um convite a ter esperança e confiança no Deus que habita entre nós. É também um convite a ter um cuidado maior com a vida em todos os aspectos.
João 13, 1-17  ( O Lava-pés )
A ceia  narrada no evangelho de João é bem diferente da dos outros evangelhos. Ele não fala em comer o corpo e beber o sangue de Jesus.O pão e o vinho são substituídos pelo gesto de lavar os pés de seus discípulos. Gesto de amor e entrega que precede e conduz à sua glorificação. "Tendo amado os seus, Jesus amou-os até o fim" ( Jo 13,1 ). Este mandamento de serviço e de amor é que purifica qualquer pessoa que queira seguir Jesus  ( Jo 15,3 ).
O ato é feito durante a ceia ( Jo,13,2 ): ele se levanta, tira  o manto, que é gesto de entrega e de serviço ( Jo 13,4 ),e ele mesmo derrama a água na bacia para lavar os pés de seus discípulos. Pedro pensa ser um ritual de purificação, por isso não aceita o gesto de Jesus( Jo 13,6-11 ).Jesus o corrige, dando-lhe o sentido verdadeiro. O gesto do lava-pés significa que a verdadeira purificação acontece na entrega e no serviço ( Jo 13,10 ). Significa que Jesus é o Messias-Servo, anunciado por Isaías (Is 42,1-9 ). Se Pedro não aceitar tal gesto, não poderá estar em comunhão com Jesus ( Jo 13,8 ). Para Jesus, os que aceitam sua mensagem, suas palavras e seus gestos, estão puros e prontos para o Reino. Não é a Lei que purifica,mas a prática das palavras de Jesus.Quem for capaz de amar como Jesus amou, receberá o Espírito  que é serviço gratuito aos irmãos ( Jo 13,34-35 ).Ele deu o exemplo (Jo 13,15 ). Nem todos estavam puros ( Jo 13,11 ),mas o amor vence o ódio. 

Conclusão

Alguns temas importantes dos sinóticos não são mencionados neste evangelho: a infância de Jesus e as tentações, o sermão da montanha, o ensino em parábolas, as expulsões de demônios, a transfiguração e a instituição da eucaristia. Em contrapartida, somente João apresenta as alegorias do bom pastor, da porta, do grão de trigo e da videira; o discurso do pão da vida, o da ceia e a oração sacerdotal; os episódios das bodas de Caná, da ressurreição de Lázaro e do lava-pés; os diálogos com Nicodemos e com a samaritana. O vocabulário é reduzido, mas muito expressivo, de forte poder evocativo e profundo simbolismo, com muitas palavras-chave: verdade,luz, vida, amor, glória, mundo, julgamento, hora,água...
Ao incluir alguns termos aramaicos e uma sintaxe semita, mostra que é um escrito ligado à primitiva tradição oral palestinense. Por outro lado, os muitos pormenores relativos às instituições judaicas, à cronologia e geografia provam o rigor da informação, às vezes confirmada por descobertas arqueológicas. Sem as informações de João , não se poderiam entender corretamente os dados dos sinóticos.
Se fosse apenas uma obra teológica, o autor não teria o cuidado constante de ligar o relato às condições reais da vida de Jesus. 

Bibliografia

1. Apostilha: Estudo sobre o evangelho de João- Amor e fidelidade á missão
2. Bíblias: a) Gamma- tradução da Vulgata por Pe. Matos Soares
                         b) Jerusalém- Paulus - 1973
                         c)Pastoral- Paulus- 1990
      3.Lopes,Mercedes; Mesters, Carlos; Orofino,Francisco- Palavra na vida 147/148- Raio X da vida- Cebi- 2000
4.Rubeaux,Francisco- Mostra-nos o Pai- Uma leitura do quarto evangelho nº 20- 1989
5.Textos da internet