Princípios da interpretação bíblica
Divergências na fé costumam ser fruto, entre outros, de diferentes
maneiras de entender a Bíblia. Confrontam-se uma interpretação literal e
outra mais liberal. Joga-se a leitura popular contra a exegese acadêmica, e
vice-versa. Denunciam-se o preconceito e a distorção arbitrária. De fato, a
Bíblia pode ser abusada para dar legitimidade aparente às mais absurdas
convicções. Torna-se objeto de disputa entre facções cristãs. Como
assegurar-lhe a função de bússola da fé e protege-la contra o perigo de ser
degradada a pedreira, da qual todos se servem a bel-prazer.
É tarefa da comunidade cristã zelar pela leitura bíblica e exigir-lhe
disciplina. Certamente a Bíblia pode, ela mesma defender-se contra a
violência dos intérpretes. A verdade cedo ou tarde vai julgar os
defraudadores. Mesmo assim, esses podem causar estragos, que é preciso
evitar. Há regas a observar quando se lê a B[iblia, no que a igreja luterana
se vê particularmente comprometida a insistir. Listamos as mais importantes:
a) Importa distinguir entre o que a Bíblia disse e o que ela diz. Como
livro histórico falou em sua época. Não é permitido ignorar a diferença dos
tempos e dos lugares sob pena de falsificar o sentido. Deve haver coerência
entre os enunciados ontem e hoje. Para entender a Bíblia hoje, é preciso
recorrer ao passado para então traduzi-la em novo contexto. Previne-se assim
a manipulação dos textos.
b) Importa ler a Bíblia toda e resistir à tentação de isolar certas
passagens. Cada versículo faz parte de um conjunto maior. A fragmentação dos
textos favorece a confirmação de preconceitos dos e das intérpretes. Quem
“filtra” a Bíblia para permanecer somente com as passagens “simpáticas” já
não mais deixa a Bíblia falar. Deixou de aprender.
c) Importa ler a Bíblia criticamente, isto é, a partir de Jesus
Cristo. Pois embora não seja permitido desconsiderar as partes “antipáticas”,
os textos bíblicos necessitam de avaliação. A exaltação da vingança, por
exemplo, que se observa em alguns salmos (Salmo 149,7, por exemplo), colide
com o amor aos inimigos, pregados por Jesus. Algo análogo vale com relação à
discriminação da mulher. Que Eva seja mais culpada do pecado que Adão (1
Timóteo 2.13ss) não pode ser sustentado perante o tribunal de Jesus Cristo.
Os textos bíblicos não deixam de mostrar reflexos dos condicionamentos
humanos de seus autores. Por isso mesmo, Jesus Cristo é o juiz da Escritura e
da História da Salvação e de cada uma de suas partes.
d) Importa ler a Bíblia como membro da comunidade cristã. Não só eu
leio a Bíblia. Outros leem também. Por isso devo testar a solidez da minha
leitura no intercâmbio com os demais, sejam leigos, pastoras, acadêmicos,
sejam pessoas do passado ou do presente. Ninguém tem um monopólio. O Espírito
Santo distribui seus dons a todos.
Compreender exige esforço, humildade. A Bíblia é como um campo cheio
de tesouros. Para encontra-los é necessário revirar a terra.
Valdeci de Oliveira-Biro-
Coordenador do CEBI-VR/ Assessor Bíblico GAEB-
da Área Norte.
Comunicador da Rádio Sintonia do Vale:
Programa Palavra & Mensagem. Dom.10 às 12 HS
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quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Princípios da interpretação bíblica - Valdeci de Oliveira - Biro -CEBI VOLTA REDONDA
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