terça-feira, 24 de setembro de 2013

Evangelho de João: A Teologia da Comunhão. Fernando Henriques - CEBI Méier

CEBI MÉIER
Comunidade Renato Cadore



Evangelho de João: A Teologia da Comunhão.

Fernando Henriques
coordenador



    O quarto evangelho do cânone do Novo Testamento pode ser atribuído a um discípulo de Jesus, chamado João (Mt 10,3). A Tradição mais antiga nos informa que o evangelho foi composto por João, filho de Zebedeu. O texto apenas indica como autor o Discípulo Amado. Entretanto os exegetas divergem quanto à sua identidade: poderia ser João, Mateus, Tiago, Pedro ou mesmo Maria Madalena. É certo que Mateus e Pedro morreram antes que este evangelho tivesse sido redigido. O mesmo se diz quanto a Tiago. Irineu de Lião aponta João como autor, baseado em testemunhos de presbíteros da comunidade de Éfeso. Papias de Esmirna afirma ter tido contato com contemporâneos de João. A exegese moderna aponta a impossibilidade de João ter escrito o 4º evangelho, mas pode ter feito uma redação primitiva em aramaico, mais tarde traduzida para o grego por algum seguidor. O autor do evangelho escreveu numa forma de teologia descendente, afastando-se da postura dos sinóticos.
     A época vivida pela comunidade joanina sofreu sensível piora desde a época de Marcos e Mateus, guardando alguma relação com a comunidade lucana. Tempos muito difíceis são vividos agora, com a ampliação das perseguições e a virtual expulsão do mundo judaico. Provavelmente contava com muitos samaritanos convertidos.
      A comunidade joanina enfrentava fortes perseguições do inimigo imperial e padecia de grandes tensões internas. Talvez por isso o ponto alto do escrito joanino seja a teologia da comunhão. Era necessário manter a fé da comunidade, dar-lhe esperança e coragem para a inevitável luta. O Dabar  introduzido na grande sinfonia de abertura fundamenta o modo de viver em comunidade.
     O Autor do Evangelho de João escreveu provavelmente para a comunidade de Éfeso, comunidade marcada pelo sofrimento e pela perseguição. Este pode ser considerado o Evangelho da Nova Libertação, afirmando que Deus não quer que seus filhos sejam vítimas da ingenuidade, mas profetas da Liberdade e da Verdade. E a verdade libertará (Cf Jo 8,32).
     A comunidade joanina precisava mais de resistência e coesão que propriamente de anúncio. O escrito busca sempre a unidade visando à sobrevivência do grupo. Há aqui um apelo insistente à comunhão, à unidade e ao Amor. Este evangelho provavelmente nasceu aos poucos, tendo sido acrescido por escritos da comunidade. O Evangelho de João provavelmente se dirige a Éfeso ou mesmo a comunidades judaico-cristãs do norte da África e do leste do Mediterrâneo. A data mais provável da redação final deste evangelho é entre os anos de 90 e 100 d.C.    
    A base cristológica do Evangelho de João reside na afirmativa de que Jesus é o Cristo desde sempre, porque estava junto ao Pai e era como o Pai, era Deus. Em João, Jesus é a comunicação do Pai, a Palavra. A Lei era um vinho de qualidade inferior. Agora há um vinho novo. O sentido de ser discípulo de Jesus acarreta a necessidade de nascer de novo. Quem não come da carne de Jesus, não bebe de seu sangue, não entra no Reino de Deus.
    Jesus veio substituir as instituições de sua época. Em Caná ele substituiu a Aliança. Em Jerusalém o Templo. Na Samaria a profecia. Por fim a grande lição da diaconia. A grande proposta de Jesus é o serviço. Lavar os pés uns dos outros. “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros” (cf Jo 13,34).
    Em João o santo espírito é chamado de Paráclito. Ele continuará a obra de Jesus. O Espírito vai esclarecer e elucidar a mente das pessoas e da comunidade, visando a construção do Reino de Deus.
    O evangelho de João é chamado de Livro dos Sinais. O quarto sinal acontece do outro lado do mar da Galileia, entre os pagãos (cf Jo, 6, 1-15). Uma grande multidão segue a Jesus após a cura do paralítico. Da mesma forma que Moisés sobe ao monte Sinai, Jesus sobe à montanha e na altitude senta-se com seus discípulos. Ali vai acontecer a Páscoa.
     O costume dizia que todo judeu deveria dirigir-se a Jerusalém e seu templo por essa época do ano.  Jesus faz o caminho inverso, sai de Jerusalém e vai fazer a verdadeira festa da passagem no alto do monte em terras pagãs. Moisés havia liderado o povo hebreu deixando para trás a escravidão no Egito e rumando à terra prometida, terra de liberdade e de vida. Agora Jesus nos diz que Jerusalém se transformou em novo Egito e ele lidera o povo saindo da Judeia, terra de opressão e exploração, e rumando para terras orientais, a leste de Genesaré. A festa celebrada em Jerusalém não é mais uma festa de liberdade e vida e sim de opressão e morte. Jesus estabelece assim um novo êxodo, fugindo do poder que tira a vida do povo.
    Jesus ergueu os olhos, viu a grande multidão que o seguira e questiona a Filipe: onde se vai arranjar pão para tanta gente? Filipe pensa que a fome do povo não tem solução, pois não pode imaginar nada além de uma solução mercadológica. Ele sabe que o comércio tomou conta dos bens que sustentam a vida. Surge então em cena o primeiro discípulo, André (cf Jo 1,40). André representa a nova proposta diante da fome do povo. Peixe e pão de cevada eram o alimento típico dos pobres naquela época e lugar. Um pequeno tem cinco pãezinhos e dois peixes e está disposto a repartir, a partilhar os bens da vida. A fome do povo era aparentemente a primeira e única preocupação de Jesus. Ele manda que o povo se sente na grama. Ali temos o novo Templo, o lugar aonde Deus vai se encontrar com a humanidade. É lá que vai acontecer a partilha dos bens da vida e a fruição da dignidade e da liberdade humanas. No alto do monte o Reino de Deus acontece.
     Jesus pega o pão do povo e faz uma oração de agradecimento ao Pai. Todos têm direito a esses bens, porque é isso que o Reino de Deus prevê. O projeto do Pai prevê que todas as criaturas de Deus terão sua porção de alimento que sustenta e garante a vida. A proposta de Jesus traz a nova visão da economia no Reino de Deus: os bens que garantem e sustentam a vida não podem ser submetidos à ganância do comércio, pois Deus os destinou a todos. O povo passa fome como resultado de uma economia sem coração, que acumula vida para poucos à custa da miséria de muitos.
    O povo se farta e ainda sobra muita coisa. Disso aprendemos que se os bens da vida forem partilhados entre todos, todos ficarão satisfeitos e ainda sobrará muita coisa. A lição é muito clara: quando a vida é partilhada, todos a possuem plenamente, e ela transborda para todos. Jesus manda recolher o que sobrou para futuras necessidades. Nada de acumulação individual. Acumulação gera ganância. E o que é acumulado por alguns falta aos outros.

O CEBI Méier convida a todos para nossos encontros todos os sábados, das 8:30 às 12 horas, na Casa Padre Dehon. Venha participar desta reflexão.

Programação para setembro:

28/09 Curso Popular da Bíblia – monarquia e profetismo.


*******************************************************************************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário