terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Apocalipse já! Gleides - Cebi Nova Iguaçu

                                                     Apocalipse já! 


          Em meio às alegrias do Carnaval, o noticiário de ontem a tarde abriu espaço para veicular a execução de 21 cristãos egípcios pelo grupo Estado Islâmico. Eles teriam cruzado a fronteira com a Líbia em busca de trabalho.
          Não foi dito, mas, provavelmente, são cristãos coptas. "A Igreja Ortodoxa Copta é a Igreja Cristã Nacional do Egito, e uma das igrejas da ortodoxia oriental mais antiga do mundo. Pela tradição, foi estabelecida por Marcos em meados do primeiro século. No Egito, hoje, são cerca de 8 a 12 milhões de seguidores." (1).
          Uma das lacunas no estudo das origens do cristianismo está, exatamente, no continente africano.
          Estavam lá, os 21 homens ajoelhados, todos vestidos com macacão cor laranja, ladeados por seus executores. Fico tentando imaginar o que passava por seus corações e mentes enquanto aguardam terem suas cabeças cortadas.
          Há pouco tempo, meninas foram sequestradas de uma escola cristã na Nigéria por um grupo que, como o próprio nome já diz - Boko Haram - não aceitam a educação que não seja islâmica.
          João, na ilha de Patmos, não poderia imaginar quantas "Bestas" ainda se levantariam do mar ou do deserto.
          A Besta do Apocalipse exigia adoração e obediência irrestrita.
         O poder absolutizado, que exige apoio ao seu projeto ou que seja professada unicamente a sua fé, continua arrastando mártires aos "Coliseus" da História. 
          Nossos irmãos coptas agora têm outra cor para suas vestes.
          Como João, quero imaginá-los com suas novas vestes brancas na presença do Cordeiro, unindo-se aqueles (as) "que veem chegando da grande tribulação (Ap. 7,13-15)”. 
                                                                                           
                                                                                                                   Gleides - Cebi Nova Iguaçu
                                                                                                                       
(1) Wikipédia

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Uma breve reflexão sobre o lema Campanha da Fraternidade 2015 da Igreja Católica Romana - Valdeci de Oliveira - Biro

 Uma breve reflexão sobre lema Campanha da Fraternidade 2015 da Igreja Católica Romana: “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos (Marcos 10,45)”.

Enviai vosso Espírito de verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo mais justo e solidário, sinal do reino que há de vir. Por Cristo Senhor nosso. Amém!(Oração da CF 2015)

Nosso objetivo é destacar algumas palavras chaves deste versículo para uma melhor compreensão dos termos a partir da sua origem dos escritos originários do grego da época do Novo Testamento, mas com uma significação simples e fácil para o nosso entendimento na vida pastoral na atualidade. Duas coisas destacam-se aqui: primeiro nosso artigo será limitado por conta do limite de nossas linhas. Segundo, este artigo ficará mais interessante se você leitor for às citações bíblicas e ler as passagens onde os termos se encontram na bíblia, assim entenderás como era o contexto escrito de todas as palavras escrita em cada cena no Novo Testamento.
Em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade de 2015 da Igreja Católica Romana, destacamos algumas palavras chaves como: Filho do Homem, servir, vida e resgate. Palavras com uma significação chave para abrir novos olhares em vista de um horizonte da escuta da palavra da Criadora de Deus, da nossa conversão para vida em abundancia e do nosso testemunho profético de Jesus Cristo, impulsionado pelo Espírito da Verdade. Vamos a elas.  
A importância do título bíblico “Filho do Homem” é uma expressão encontrada no Antigo Testamento e os autores sagrados do Novo Testamento a utilizam com uma nova roupagem do novo messias a partir da pessoa de Jesus. Então, Filho do Homem aqui é Jesus. Jesus é Filho de Deus, mas este nome mostrava que Jesus era um homem no sentido gênero humano e individual no sentido antropológico também. Jesus chama a sim mesmo de Filho Homem, essa expressão aparece 82 vezes nos Evangelhos, ela aparece em Atos 7,56, no Livro do Apocalipse 1,13; 14,14. A intenção dos autores sagrados do Novo Testamente ao assumir esse título, estavam afirmando uma promessa futura aos judeus e abertura universal a outros povos: Eu sou o Filho do Homem e essa é a profecia, que está no livro de Daniel 7,13–14 este é o nome usado para o Messias (Cristo).
 A palavra grega “diaconia” que significa servir. Mas como devemos empregar esse termo correto no contexto bíblico? Apontamos alguns como no sentido de servir à mesa daqueles que necessitam de matar sua fome e sede Lc 12,37; 22,26s; Jo 12,2. Servir no sentido do resgate da vida. Mt 4,11; Mc 10,45; At 19,22; 2° Tm 1,18; 1° Pd 1,12; Auxiliar no sentido de ser suporte pastoral em comunhão a Jesus, o Bom Pastor Mt 27,55. Cuidar no sentido de atenção àqueles que ficamos indiferentes na comunidade e na vida At 6,2; 2 Cor 3,3. Ajudar, apoiar, em tudo que for necessário para fortalecer a comunidade Mt 25,44; Lc 8,3; Hb 6,10.—3. Servir como diácono, símbolo da prática pastoral, que não divide a comunidade. Todos somos diáconos em Cristo 1° Tm 3,10. 13.
A palavra “vida” tão cara ao Evangelho de Cristo. No grego ela é descrita como alma. Frequente é impossível traçar limites claros e definidos entre os significados desta palavra, pois ela tem muitos simbolismos e carregada de significados. Vamos a elas. Vida em seus aspectos físicos como (fôlego da) vida, princípio vital, alma Lc 12,20; At 2,27; Ap. 6,9. No sentido da vida terrena em si Mt 2,20;20,28; Mc 10,45; Lc 12,22; Jo 10,11; At 15,26; Fl 2,30; 1° Jo 3,16; Ap 12,11.A alma como sede e centro da vida interior de uma pessoa, em seus muitos e variados aspectos: desejos, sentimentos, emoções Mc 14,34; Lc 1,46; 12,19; Jo 12,27; 1° Ts 2,8; Hb 12,3; Ap 18,14; coração Ef 6,6; Cl 3,23; mente Fp 1,27. A alma como a sede e centro da vida que transcende a terrena Mt 10,28; 39;11,29; 16,26; Mc 8,35-37; 2 Cor 12,15; Hb 6,19; Tg 1,21; 1° Pd 1,9;2,11. Algumas vezes expressa um relacionamento reflexivo e pode ser traduzida por ego, eu mesmo, eu, mim Mt 26,38; Mc 10,45; Jo 10,24; 2° Cor 1,23; Ap 18,14. Por metonímia aquilo que possui vida ou uma alma, criatura, pessoa At 2,41; 43; 3,23; 27,37; Rm 2,9; 1° Cor 15,45; 1° Pd 3,20; Ap. 16,3. Psique, psico-prefixo de várias palavras psicologia, psicoterapia.
A palavra lutron no grego que traduzida significa “resgate” termo muito utilizado no contexto do Império Romano, a partir do comércio mercantilista escravagista. Lutron esta ligada a libertação daqueles que vivem sob várias formas de escravidão em seus vários sentidos como veremos a palavra resgate no sentido do preço de libertação Mt 20,28; Mc 10,45. Ao libertar ao pagar um resgate. 1° Pd 1,18. Libertar e não se corromper. Lc 24,21; Tt 2,14; At 28,19: redenção, resgate, libertação Lc 1,68; 2.38.
Conclusão que o serviço de Jesus será dar a vida como resgate. Jesus chega ao extremo, oferecendo sua vida (Rm 3,24; 1ºCor 1,30). E nós o que oferecemos a Deus?

Fontes consultadas:
BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Paulus Editora, 2002.
Diccionario Bíblico Mundo Hispano, et ali J. D. DOUGLAS: Editorial Mundo Hispano, 2003.
GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento grego/português. São Paulo: Vida Nova, 1993.

Valdeci de Oliveira Biro
Pós-Graduando em Assessoria Bíblica Centro de Estudos Bíblicos
 Escola Superior de Teologia Bíblica Luterana de São Leopoldo-RS

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Contexto religioso do evangelho de João - O conflito na base da comunidade. Roberto e Afonso

                                  Contexto religioso do evangelho de João
                                   O conflito na base da comunidade.

                                                                                 Roberto e Afonso


1-     A confissão de fé em Jesus Cristo e o testemunho cristão no mundo nascem de um conflito concreto vivido pelas comunidades Joaninas.

A comunidade Joanina tem uma longa historia. A sua maneira de testemunhar o evangelho de Jesus Cristo atraia vários grupos de Judeus, e depois de pagãos. De fato a origem dessa comunidade está ligada ao “Discípulo Amado”. Este não era um dos doze, mas era discípulo e amigo de Jesus.
O tipo de pregação que a comunidade  fazia atraia, em primeiro lugar, os discípulos de João Batista, essênios e samaritanos; grupos esses que já tinham um certo preconceito em relação ao Templo de Jerusalém.
Atraíam também Judeus-Helenitas em peregrinação à Terra Santa  e que também tinham mais facilidade  de ver  a presença de Deus em seu povo através de Jesus Ressuscitado do que no templo de Jerusalém.
N medida em que a comunidade joanina ia desenvolvendo a sua cristologia (cf, Jo5,18ss), primeiro começou a ter problemas com os sacerdotes do Templo, depois  com os fariseus, e, finalmente, com as próprias comunidades fundadas pelos Doze. Com o correr do tempo, isso leva essa comunidade a sair da Palestina e a instalar-se na Ásia Menor. E a maioria dos comentadores acha que o local mais indicado para compreender a sua vida  e os seus conflitos é a cidade de Éfeso, na Ásia Menor.

2 -  Formação  da comunidade e Grupos religiosos ( anos 50 /80 aproximadamente).

A tradição situa as comunidades joaninas na região de Éfeso, na Ásia Menor (veja o mapa). A origem dessas comunidades não pode ser determinada com exatidão. Foram surgindo lentamente durante 30 anos aproximadamente. O Evangelho e as Cartas não nomeiam nem situam as comunidades geograficamente. No Apocalipse os capítulos 2 e 3 falam de sete (7) comunidades concretas ou igrejas (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, e Leocádia). Certamente as comunidades joaninas eram muito mais numerosas. A comunidade mais velha provavelmente era Éfeso, o ponto de partida para a expansão da mensagem cristã.
 Os grupos de origem das comunidades ligadas ao Discípulo Amado viviam na Palestina, provavelmente na Galiléia. Comunidades que foram se formando a partir de um grupo de cristãos de origem judaica. Comunidades acolhedoras que recebiam qualquer pessoa de qualquer procedência: os discípulos de João Batista (cf. Jo 1, 35ss), os samaritanos (cf. Jo 4), os helenista (cf. Jo 7, 35; 12, 20), os judeus expulsos da sinagoga (cf. Jo 9, 22; 12, 42. 16,2).
O que vem acarretar conflitos externos e confrontos inevitáveis (80 -100, aprox), mas essa pluralidade de culturas faz crescer e enriquecer a fé. A comunidade joanina é uma afluência de vários grupos com suas respectivas tradições religiosa.
a) Grupo  “mundo”
Essa palavra tem pelo menos 4 significados: existência, universo, humanidade e sociedade (sociedade corrompida, injusta e opressora). Trata-se da sociedade greco-romana, com suas leis, sua cultura, seu sistema político-econômico e principalmente, seu poderio militar. Naquele contexto histórico-social, o mundo em que se inseria a comunidade joanina tinha interesses coincidentes com o judaísmo formativo. O povo judeu jamais se conformara com a dominação romana.
b) Grupo “judeu”
         A palavra “judeu”, no Evangelho às vezes representa todo o povo judeu. Nesse caso, por trás escondem-se as autoridades do povo judeu, em parte responsáveis pela morte de Jesus e dos cristão no tempo em que o Evangelho está sendo escrito. Havia  os judeus da sinagora que erxpulsaram os cristãos (9,22) e também os judeus que criam em Jesus (2,23-25) .
c) Grupo  “seguidores de João Batista”
           Atos 19,1-7 dá a entender que, desde o ano de 54, em Éfeso, já havia seguidores de João Batista, personagem importante no Evangelho de João. Estudos recentes afirmam que o Prólogo (Jo 1,1-18), esse hino, na sua origem seria uma poesia dedicada a João Batista. De fato, examinando Jo, 1-18, nota-se que os versículos 6-8 e 15 são uma espécie de cunha, um acréscimo para esclarecer que João Batista é simples testemunha que leva as pessoas a crer em Jesus. Ele reconhece que deve diminuir até desaparecer, ao passo que Jesus deve crescer (3,30), e à medida que dá testemunho, se esvazia e perde discípulos (1, 35-39). Nessa dimensão, é sinal de que as comunidades joaninas tiveram sérios enfrentamentos com os seguidores de João Batista. Em 3,23-36 o problema é que Jesus batiza e tem mais discípulos que João.
d) Grupo  “criptocristãos” (cristãos “em cima do muro”)
         São pessoas que deram sua adesão a Jesus, mas têm medo de confessar publicamente a própria fé. Se fizessem seriam expulsos da sinagoga como o cego que Jesus curou na piscina de Siloé (Jo 9,1-38). Duas personagens do Evangelho de João representam bem esse grupo: são Nicodemos e José de Arimatéia. Os dois pertenciam à elite dos judeus. José de Arimatéia usa seu prestígio (talvez pagando propina) para convencer Pilatos a deixar que o corpo de Jesus seja retirado da cruz (Jo 19,38b). Os romanos deixavam os corpos apodrecendo na cruz, para servir de alerta a quem ousasse discordar do sistema, do “mundo”.
e) Grupo   “cristãos judeus de fé inadequada” (insuficiente)
         As comunidades do Discípulo Amado não poupam críticas a esse grupo em seu Evangelho. O grupo segue Jesus até servir aos próprios interesses. O trecho a seguir começa reclamando desse grupo e termina mostrando a desistência do mesmo (Jo 6,60-66).
f) Grupo  “cristãos das igrejas apostólicas” (hierarquizadas)
          As comunidades joaninas não tinham um poder centralizado e centralizador como as outras comunidades cristãs do fim do I século e início do II século. Eram extremamente fraternas e iguais. A imagem mais significativa a esse respeito é a da videira (Jesus) e os ramos (os fiéis) capítulo 15. Para entender basta observar o papel das mulheres no Evangelho de João. As comunidades joaninas reagem contra as igrejas hierarquizadas representadas por Pedro. Pedro ao encontrar-se com Jesus pela primeira vez recebe um desafio que é procurar a própria identidade, representada pelo nome que Jesus lhe impõe, Cefas. Mas Simão nunca é chamado de Cefas. Jesus o chamava se Simão, filho de João.  (21,15-19). Excetuado dois textos (Jo 6, 67-71) e o capítulo 21, que certamente são acréscimos posteriores, Pedro se debate constantemente à procura de um eixo que lhe dê equilíbrio.
g) Grupo dos dissidentes
Grupos com outras idéias, como helenizantes ou gnósticos, Mais que no Jesus historico, acreditavam no Jesus transfigurado.

3-  Conflitos da Comunidade 

      A comunidade enfrenta duas graves ameaças: a expulsão da sinagoga e a crise de fé. Para um judeu, a expulsão da sinagoga era uma verdadeira tragédia: era cortar suas raízes  sócio-religiosas. Era como degradá-lo. Privá-lo de seus direitos de cidadania e bani-lo. Grande parte dos membros da comunidade joanina vivia esse drama. (Por volta do ano de  85 os cristãos  , que atè então iam para as sinagogas discutir as leis e os profecias com os judeus, são expulsos. Esse conflito foi denominado Reunião de Jamnia, pois foi ali que os Judeus se reuniram e acrescentaram a décima nona “benção” – “Maldito todo aquele que segue o  Nazareno !”
      Mas o desafio maior vinha da própria fé na encarnação. Neste sentido, é muito ilustrativo o capitulo 6. Depois da partilha dos pães,  Jesus vai para cafarnaum. Ao percebê-lo, a multidão embarca, atravessa o lago e vai ao seu encontro. Questionado,  Jesus faz o belo discurso em que se identifica como o maná do deserto e se proclama o verdadeiro pão descido do céu. Explode então uma crise de fé e muitos o abandonam (Jo 6,60-66). (As dificuldades entre  cristãos e judeus  se acentuaram. Muitos abandonaram as sinagogas e assumiram a fè cristã, outros abandonaram as comunidades e se uniram definitivamente às sinagogas, seus lugares de origem.)
      Além disso, tem de defender-se da infiltração do gnosticismo e do docetismo que desviam da pratica cristã originária, vivida e proposta por jesus de Nazaré.  A doutrina gnóstica afirma que a pessoa humana se salva graças a um conhecimento religioso especial, secreto e individual.  Os gnósticos pretendiam ser iluminados e livres do pecado e das tentações.  Não davam nenhuma importância à prática comunitária de amor ao próximo.
       O docetismo negava a encarnação do Filho de Deus. Afirmava que a humanidade de Jesus não passava de uma aparência, não podia ser uma realidade objetiva porque não admitiam que Deus pudesse assumir a nossa condição humana.
       A comunidade joanina pode ser assim caracterizada: comunidade de periferia, sem poder, marginalizada e excluída do sistema. O cego de nascença, como representante da comunidade  è expulso da sinagoga( Jo 9). Os samaritanos, excluídos pelo judaísmo oficial, são acolhidos carinhosamente (Jo 4,41-42).

4- O Desaparecimento das Comunidades Joaninas.(por volta do ano 110)

        A parceria das comunidades joaninas com as igrejas hierarquizadas teve consequências claras. O conflito interno foi superado. O grupo que criava discórdia dentro das comunidades joaninas foi afastado e se incorporou ao gnosticismo fazendo uma leitura gnóstica do evangelho de João , o que reforçou a desconfiança das outras comunidades  cristãs em relação ao evangelho.
          As comunidades joaninas tiveram que ceder e se adaptar ao novo jeito de ser igreja.  Abandonaram o evangelho de João para adotar o de Mateus. Cederam com inteligência e criatividade ,  mas  o preço foi alto e fatal: pouco a pouco  foram absorvidas pelas comunidades hierarquizadas e diluíram se nelas.
            Foram acrescentados  ao evangelho de João alguns textos importantes referentes a figura  representativa de Pedro (Jo 6,67-71 e o capitulo21) e à Eucaristia( Jo 6,51-58).
            O evangelho de João passa por um longo processo de silencio e desconfiança. Muito tempo depois, alguns escritores cristãos sem preconceitos o recuperam sem a influência do gnosticismo.

5-  Conclusão

             O capitulo 21 do evangelho de João reflete essa tensão (hierarquia x poder serviço). Unir as duas maneiras de ser igreja é um desafio constante até hoje.                                                                                                                                
  

6- Anexos

                                  Anexo 1: o movimento gnóstico
             Para bem entender os escritos pós- apostólicos, convém conhecermos alguns pontos centrais do gnosticismo.
             A palavra  gnóstico vem de “gnose”, que em grego significa conhecimento. O gnosticismo é um movimento religioso e filosófico que já existia no mundo greco- romano quando surgiram as primeiras comunidades cristãs e que teve seu auge no segundo século. A doutrina desse movimento tem sua origem na filosofia grega e em diversas religiões e correntes espirituais. Era uma mistura de ideias  desde a cultura do Irã, da Babilônia, do Judaísmo e do Egito, incluindo o pensamento grego.
                Diferentemente do Judaísmo, que propunha a Lei como caminho de redenção, os gnósticos apresentavam o conhecimento divino como  caminho para a verdadeira salvação.  Conhecimento que não se alcançava somente por esforço humano, mas era recebido por meio de uma revelação divina  vinculada à faísca de Deus adormecidas nas pessoas, transformando-as inteiramente e conduzindo-as à vida verdadeira. Os adeptos do gnosticismo consideravam seu conhecimento superior ao das pessoas que não seguiam seu movimento.
               O pensamento gnóstico é fortemente dualista. Por um lado, vê o mundo, a matéria de forma muito negativa, sob o domínio das forças do mal, das trevas.  O corpo humano está nessa esfera.  Como todo o cosmos, incluindo o corpo humano, encontra-se nas trevas, governado por forças inimigas, entregue à perdição, às paixões.  A matéria como prisão das centelhas divinas
                  Por outro lado, está a luz divina, lugar de onde se originam as almas das pessoas, que estão adormecidas e presas nos corpos, na matéria.  Adquirir conhecimento capacita as pessoas para percorrer o caminho de volta à dimensão divina.
                      Nesse sentido, os gnósticos entendem a alma como um núcleo divino que se encontra prisioneiro no corpo das pessoas.  Para vencer seus prazeres, seu egoísmo e seus desejos carnais, o corpo devia ser desprezado e castigado, além de ser afastado de todas as coisas  materiais, o mundo.  Para se libertar ,  a alma precisa alcançar a sabedoria, o conhecimento.  Uma vez liberta, ela volta a fazer parte da esfera divina.
                      Esse pensamento também encontrou adeptos nas comunidades cristãs. Os gnósticos cristãos entendiam Jesus como o salvador que revela o conhecimento de Deus à humanidade.  Ele terá descido em forma humana.  No entanto, não era verdadeiramente homem.  Não teria passado pelo sofrimento e pela morte.   Propunham também um desprezo por tudo que tem a ver, segundo seu pensar, com as coisas terrenas como, por exemplo, o casamento (1 Tm 4,3).
                       Os gnósticos cristãos estavam preocupados com a busca da revelação do conhecimento divino e com o distanciamento de tudo que estava ligado às coisas materiais.  Afastavam-se de um Cristo encarnado na condição humana (1Jo 4,2-3; 2Jo 7) e envolvido na promoção da vida de quem estava à margem da  cidadania, tendo  que enfrentar, consequentemente, sérios conflitos com quem detinha o poder político, econômico e religioso.  Dessa forma os gnósticos cristãos promoviam um cristianismo voltado à busca da sabedoria.  Transformavam o evangelho do reino em uma religião que não representava nenhum perigo às estruturas desse mundo, limitando –se  demasiadamente à libertação interior, uma religião de elite, letrada e economicamente superior.
                  É possível que o mago simão de at 8,9-24 seja um gnóstico que se dizia ser portador da revelação divina.

                                     Anexo 2 : a expulsão da sinagoga.
                   A sinagoga tinha um papel central na vida das famílias  judias, particularmente na diáspora , onde surgiu.  Era a casa de oração , de adoração ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó.  Nela se guardavam os rolos da Torá, expressão máxima da presença de Deus depois que o Templo de Jerusalém foi ao chão. E Não só. Era também:                                                                                 
  1- o espaço de alfabetização e de estudo das escrituras;
2-o local de reunião em que eram discutidos e resolvidos os problemas internos da comunidade judaica;
3-o canal de comunicação entre a comunidade e as autoridades civis (com direito inclusive  a cobrar impostos para si e a recolhê-los para o império);
4- a responsável pelos recursos comunitários destinados  a aliviar as necessidades  dos abandonados (órfãos, viúvas e enfermos);
5-  a administradora do campo santo, único local onde os judeus se sentiam enterrados com dignidade fora de sua pátria.
                         Toda a vida das famílias judaicas girava em torno da sinagoga.  Colocar – se fora desinagoga ficavam proibidos de comprar e vender dos dissidentes.  Estes, por sua vez,  perdiam todos os direitos que somente por meio dela poderiam usufruir: educação, convívio cultural, participação politica, defesa diante dos desmandos do estado, assistência social... e até enterro!  Poucas coisas  podiam ser tão aterrorizantes como ter negado o direito a ser enterrado.  E as lideranças souberam usar bem essa situação para implementar  seu projeto.  O medo de ser expulso da sinagoga transparece em vários momentos do evangelho (Jo 9,22; 12,42 la ou ser expulso era uma desventura com consequências quase insuperáveis.  Sem  a mediação da sinagoga, os dissidentes não podiam aprender uma profissão.  Sofriam embargo econômico da própria comunidade.  Os judeus  que permanecessem fiéis ao cristianismo.

                   Trabalho apresentado por Roberto e Afonso durante o 1º seminário do grupo CEBI Graça de Duque de Caxias -que aconteceu no dia  25/01/15.