domingo, 18 de abril de 2021

Terra vermelha - João Crispim Victorio - Cebi Campo Grande - Rio de Janeiro (RJ)

Terra vermelha


Final de tarde

Ao longo do horizonte

o sol ainda brilha

Terra vermelha

do pobre sangue derramado

por uma gente sofrida...


No alto do mastro

no centro do assentamento

a bandeira é movida pelo vento

Hoje sopra diferente

sinal de resistência dessa gente

que segue em frente...


O inferno de Dante

Se fez presente entre aquela gente

agora sem vida plena

Explorados fardados

cegamente cumpre as ordens

dos que tem olhos arregalados...


Terra prometida

é uma conquista coletiva

pela necessária Reforma Agrária

Ainda hoje estarão comigo

no paraíso dos santos 

A luta não foi em vão...


 * Em memória dos mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, 25 anos

             

             Poema de João Crispim Victorio.

                       Livro: Sobre o Trabalho que Falo...(2013)


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Quem é meu companheiro?

Companheirismo, quem é meu companheiro?
João Crispim Victorio[i]
Recentemente fui chamado de companheiro por uma pessoa que julgo não saber o significado da palavra. Pois tenho observado que muitos vêm, ao longo dos últimos anos, utilizando o termo pura e simplesmente por modismo ou de forma incoerente com o seu verdadeiro sentido e significado. Dessa forma, podemos dizer que o termo companheiro vem sendo usado de modo genérico para identificar pessoas como pertencentes a um determinado grupo organizado, que pode ser partidário, sindical, religioso, cultural ou esportivo, independentemente da superficialidade ou do comprometimento de cada um no grupo.
A etimologia da palavra companheiro[1] deriva da tradução do latim vulgar (‘cum’ + ‘panis’), na antiga Gália - atual França, de uma expressão germânica, "gahlaiba", composta de “ga” («com») + “hlaiba” («pão») – cf. Dicionário Houaiss, e do antigo castelhano compañero. Segundo, Antenor de Veras Nascentes[2]o signficado no latim vulgar compania `conjunto de pessoas que comem seu pão juntamente´ ter-se-ia generalizado para `pessoas que vão juntas´ e, depois, se especializado, como termo militar e para fazer referência à `tripulação de uma embarcação´”.
Como podemos ver a palavra companheiro que se referia a quem se comia junto o pão, foi perdendo seu significado. Hoje o sentido da palavra companheiro se confunde com o da palavra colega, conforme definição do Dicionário Aurélio[3] “1 aquele ou aquilo que acompanha ou que faz companhia. 2 - O que vive na mesma casa. 3 - Pessoa que partilha com outra(s) a profissão, as mesmas funções, a mesma coletividade. 4 - Pessoa que tem com outra ou outras uma relação de amizade ou camaradagem. 5 - Membro de um casal, relativamente ao outro. 6 - Segundo grau da ordem. 7 - Forma de tratamento amigável. 8 - Que acompanha ou faz companhia. 9 - Que anda junto. 10 - Que está sempre ligado a outro”.
Na origem, companheiro é alguém muito próximo que senta à mesa conosco para partilhar o pouco pão e compartilhar a luta por uma vida melhor. Assim nasceram as primeiras organizações operárias - os sindicatos[4]. A solidariedade entre os operários e suas famílias foi de fundamental importância na conquista de melhores salários, melhores condições de trabalho e fortalecimento de classe. Desse modo, companheirismo é um processo coletivo de construção ideológico no intuito de abraçar o ideal da transformação social “para que todos tenham vida, e a tenham em abundância[5]”, que significa ter casa, escola, trabalho, saúde e pão para comer, pão que historicamente é símbolo de acolhida e de solidarismo[6].
Mas, infelizmente, alguns dos que se dizem companheiros, principalmente os que atuam com você nos sindicatos e nos partidos políticos, os que deveriam ter um mínimo de ideologia e saber que vivemos uma luta de classes, justamente esses agem sem nenhum escrúpulo e usam os outros companheiros para atingir seus objetivos escusos. Isso mos mostra a triste realidade da atual sociedade que vivemos. Então, é preciso recuperar os valores éticos, morais e solidários, que vêm sendo aos poucos ignorados e banalizados pelo poder opressor, desse sistema político capitalista que valoriza o individualismo, a vaidade e o consumismo em detrimento do companheirismo e da vida em plenitude.


Rio de Janeiro, 11 de maio de 2017.



[1] Disponível em: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-de-companheiro/33460. Acesso em: 11 de Maio de 2017.

[2] Antenor de Veras Nascentes (6/1886 – 9/1972) filólogo, etimólogo, dialectólogo, e lexicógrafo brasileiro de grande importância para o estudo da lingua portuguesa. É considerado um dos mais importantes estudiosos da Língua Portuguesa do Brasil no século XX. Ocupou, como fundador, a Cadeira nº 3 da Academia Brasileira de Filologia.

[3] Disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com/companheiro›. Acesso em: 11 de Maio de 2017.

[4] Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Origem-da-palavra-companheiro. Acesso em: 11 de Maio de 2017.

[5]  Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/10/10. Acesso em: 11 de Maio de 2017.

[6] Termo criado pelo autor.




[i] Professor, Especialista em Educação, Poeta e Secretário do CEBI-RJ.

Eu vi a coragem do Povo e a repressão praticada por aqueles que deveriam cuidar da “ordem”.

           Na  última sexta, dia 28 de abril, data escolhida para a greve geral e atos contra as reformas trabalhista e previdenciária que o governo quer nos impor. Precisávamos (eu e Milena, uma de minhas filhas), como de costume, estar junto às ansiedades e caminhada do povo e a este evento marcante para os novos rumos da história brasileira.
De início fomos à Cinelândia, onde concentravam-se centrais sindicais e várias categorias sindicais, entre elas:  saúde, petroleira, educação, químicos etc. Encontrava-se também a postos um cordão  da tropa de choque da PMRJ, prontamente equipada com escudos, bombas e cassetetes, na entrada principal do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a fim de inibir o acesso dos manifestantes às escadarias deste. Observamos toda a  movimentação  e dali  partimos  em direção à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro  (ALERJ), um dos principais pontos de encontro da atual luta popular. Onde também já encontrava-se a postos, no alto das escadarias, mais um cordão da PMRJ.
               Lá já estava concentrada uma multidão, e partimos em direção à igreja da Candelária. Logo fomos surpreendidos pelo estouro de bombas e gás lacrimogênio (gás de pimenta) que partiam da parte posterior à multidão. Os manifestantes mais próximos e atingidos pelo gás comprimiam-se em meio à multidão e a cortina de fumaça na tentativa de alcançar a primeira esquina  para se proteger.  Dentre a multidão, havia famílias com crianças, idosos e idosas, universitários, jornalistas e centenas de trabalhadores e trabalhadoras. 
Recuperadas dos efeitos dos gases, juntamente com outras pessoas, retornamos à multidão. Chegamos  à Igreja da Candelária, e numa mureta, filmamos parte da multidão, quando visualizamos os “mascarados” adentrando na avenida, com arruaças e quebra-quebra, migrando para o lado direito da mesma Avenida, destruindo  vidraças de uma agência bancária, ao passo que a multidão seguia sua trajetória com palavras de ordem atrás do carro de som, pelo lado esquerdo desta mesma Avenida. Ao cruzar a lateral da igreja da Candelária, havia um novo cordão da PMRJ na espera, que observavam de longe a ação dos mascarados. Helicópteros apareceram sobrevoando a região.  Adiante, havia inesperadamente mais um cordão da PMRJ que logo avançou em direção à multidão novamente com bombas de gás e também com tiros de borracha. Iniciou-se então novo enfrentamento e correria.
O intrigante deste momento, foi que mesmo o grupo de mascarados efetuando suas ações do lado direito da Avenida Pres. Vargas, toda a investida policial, concentrou-se do lado esquerdo, onde passavam os manifestantes pacificamente.
               Houve muita correria e dispersão dos manifestantes e em meio  ao corre-corre e ação do gás, pessoas passaram mal. Correndo, entramos na Rua Uruguaiana, abrigando-nos em uma lanchonete, a qual estava fechando as portas devido à cortina de fumaça. Permanecemos lá por mais ou menos 30 minutos,  junto a um grupo de universitários vindos da cidade de Rio das Ostras. Nesta  lanchonete, assistimos algumas transmissões ao vivo de uma “grande emissora de televisão brasileira”, que divulgava imagens distorcidas sobre o fato ocorrido.
             É nítida a inversão de valores, a insistência na apresentação de imagens que são favoráveis ao que eles querem que acreditemos. São  mentiras descaradas.
             Logo seguimos em direção para o Largo da Carioca, onde tinham novos cercos policiais restringindo as passagens de acesso à Cinelândia e nitidamente ouviam-se estouros de bombas vindos de lá. Contornamos pela Av. Chile, na esperança de chegarmos e continuarmos a manifestação. 




Na Rua das Marrecas,  muitos grupos dispersos, que vinham retornando da Cinelândia devido à violência instaurada pela PMRJ, e insistentemente helicópteros sobrevoavam em baixa altura ruidosamente.
Recomeçam os tiros cada vez mais próximos e decidimos retornar para casa.   Observamos ainda, mais policiais saindo do Quartel General com seus blindados da Rua Evaristo da Veiga indo em direção à Cinelândia.
No caminho de volta para casa, vínhamos refletindo sobre a coragem do povo, abafada pela covardia e repressão dos Poderes do Estado. Mesmo tristes, cada cidadã e cidadão tinham exercido seu direito de ir às ruas em busca de melhores dias e  a certeza de que a multidão  que cumpriu seu papel e que foi violentada, se recuperará e retomará o que é seu por direito.

                                                         Janete J. Martins
                                                         CEBI RJ


terça-feira, 8 de novembro de 2016

"A Esperança é a última que morre." Fernando Henriques coordenador/CEBI Méier


CEBI MÉIER
Comunidade Renato Cadore

Mês da Bíblia:A Esperança é a última que morre.

Fernando Henriquescoordenador


Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).

    No mês da Bíblia do ano de 2016, setembro, o livro bíblico a ser estudado e meditado é o do profeta Miqueias. O tema é “A Profecia em defesa da vida”. O lema é uma frase do próprio livro de Miqueias, cap.6 v-8 (O Profeta Miqueias – a esperança é a última que morre, Carlos Mesters e Francisco Orofino, edição CEBI, PNV 335, São Leopoldo, 2015).
    Miqueias falava ao povo de Deus. Quem era esse povo de Deus? Num mundo dividido entre exploradores e explorados, Miqueias não tinha nenhuma dúvida: o povo de Deus eram os pobres, aqueles que tinham que entregar suas capas de frio como garantia (cf Ex 22, 25-26 e Dt 24, 10-13).
   Povo de Deus eram as mulheres e crianças tiradas de suas casas e vendidas para pagar as dívidas da família. O empobrecimento das pessoas estava crescendo assustadoramente. A escravidão tinha chegado à região por causa das dívidas.
   Povo de Deus eram os pequenos proprietários com sua agricultura de subsistência que eram roubados de suas terras e casas. A ganância do latifúndio levava ao empobrecimento de uma vasta população.
   O profeta vai se lembrar de Belém, um lugarzinho insignificante do interior, embora perto da capital Jerusalém. “E tu, Belém, pequena demais para ser contada entre as aldeias da tribo de Judá. É de ti que vai sair aquele que deve governar Israel. A origem dele vem de um passado distante. Ele se colocará de pé e guiará o seu rebanho com a força do Senhor. Ele mesmo será a paz! (Miquéias 5, 1-4).
    O profeta da roça acredita que dos pobres do interior virá um verdadeiro líder popular que trará a paz para o povo. Muito a norte dali, nas serranias da Galileia, há uma aldeia ainda mais insignificante, de seu nome Nazaré.
     Miquéias imagina que o novo Messias virá de Belém, assim como Davi. Miqueias tinha certeza de que os pobres seriam a única garantia de um futuro melhor. Nenhum futuro bom se poderia esperar dos palácios, dos bairros ricos das cidades, de qualquer rei poderoso. O futuro deveria vir da periferia.
     O livro de Miqueias oferece uma espiritualidade que possibilita o despojamento necessário para superar o consumismo e o individualismo da cultura do mercado global. Ele apresenta uma visão de Deus presente na sua criação, caminhando com seu povo em busca de “terra, pão e moradia” (Profecia em defesa da vida – círculos bíblicos sobre o Livro de Miqueias, Mercedes Lopes, edição CEBI, PNV 339, São Leopoldo, 2016).

     O CEBI Méier, continua seu especial carisma do estudo da Bíblia e da Vida, nossos encontros são aos sábados das 9h às 12h, na Casa Pe. Dehon (Rua Vilela Tavares, 154, Méier). Não há necessidade de inscrição prévia. Basta levar a sua Bíblia.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

As Crianças E Os Velhos Nas Praças Serão Um Sinal Dessa Nova Aliança. - Valdeci de Oliveira Biro - Cebi Volta Redonda (RJ)

As Crianças E Os Velhos Nas Praças Serão Um Sinal Dessa Nova Aliança.

Livro do Profeta Zacarias 8,4-5: “Velhos e velhas ainda se sentarão nas praças de Jerusalém, todos de bengala na mão por causa da idade. Mas logo as praças da cidade ficarão cheias de meninos e meninas a brincar pelas ruas”. Citação retirada da Bíblia Pastoral, Paulus, 1990.
 O Livro de Zacarias reúne oráculos[1]do profeta que tematizam a promessa de salvação. E uma profecia escrita no exílio da Babilônia (520 a.C.), em terra estranha para os Israelitas. O profeta anima o povo a retornar do exílio e reconstruir a cidade e o templo de Jerusalém.
Neste contexto ele anuncia um tempo de esperança, que as praças da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão (Zc 8,5).
Javé convida seu povo para fazer com ele uma nova aliança fundada na verdade e na justiça, a força capaz de trazer a paz e a alegria. As crianças e os velhos nas praças serão um sinal dessa aliança. Crianças brincando na praça é um sinal claro de que há segurança. Jerusalém é a cidade ideal: sem muros, e uma nova população. Velhos com idade avançada, crianças brincando é uma perspectiva de uma população em crescimento, um bom sinal diante da dispersão judaica (espalhamento dos judeus pelo mundo) após o exílio da Babilônia.

*Valdeci de Oliveira Biro
Coordenador do CEBI-SUL FLUMINENSE-VOLTA REDONDA
Pós-Graduado em Especialização Bíblica na
Área de Assessoria e Metodologia
 Pelo CEBI e Faculdade EST: Escola Superior de Teologia Luterana
Membro da ABIB: Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica





[1]  Uma coletânea de discursos de julgamento contra os dominadores que prejudicam os mais pobres e indefesos: órfão, a viúva e o estrangeiro. Javé fala através da boca dos profetas. Através das palavras dos profetas exprime sentimentos de castigo ou a ira e anunciam também a esperança consoladora. É a própria fala ou declaração de Javé: "assim disse Javé", ou de fórmula acentuada: “Ouvi esta palavra!" Eu [Javé] não o revogarei...

domingo, 11 de setembro de 2016

GÊNESIS: A CRIAÇÃO NASCE DAS ÁGUAS. Valdeci de Oliveira Biro - CEBI Volta Redonda (RJ)

GÊNESIS: A CRIAÇÃO NASCE DAS ÁGUAS.

Os cidadãos da província que voltaram do cativeiro e do Exílio, aqueles que Nabucodonosor, rei de Babilônia, deportara para Babilônia; voltaram para Jerusalém e para Judá, cada um para a sua cidade. O rei Ciro da Pérsia conquistou Babilônia (Dn1,21) em 539 da AEC (Antes da Era Comum, em respeito fé Judaica). Esse é o ponto histórico.
A comunidade Israelita começa a contemplar Deus como fonte criadora, capaz de renovar seu povo através da nova aliança, foi no cativeiro da Babilônia que surge o relato do Gênesis: a criação nasce das águas. Nasce uma das primeiras tradições bíblicas: a origem do mundo criado por Deus (Gn 1-2,4). No princípio, havia as águas do abismo, de onde nenhuma vida surgia.  Deus separa as águas do céu e as do abismo. Deus venceu o caos, para que o ser humano pudesse existir em terra firme sem medo do dilúvio.
 O principal ato da criação de Deus é o ruah: o seu Espírito criador. Toda criação e a história vivida pelo povo Israelita estão em profunda comunhão com Deus. É sinal da presença de Deus. Deus é amor e favorece tudo o que vive (Gn 9,9). O ruah de Deus aparece como água que sacia a sede e purifica quem bebe, o livro dos Salmos está repleto desse simbolismo.
Hoje temos, o contraditório, ação dominadora do sistema capitalista de olho nas matrizes energéticas em todo mundo.
Valdeci de Oliveira Biro. Biblista.
valdeci.biblista@outlook.com


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Artigo de Miqueias do mês da Bíblia(ICAR) 2016. Profeta Miqueias: seu povo, sua terra e sua proposta. Valdeci de Oliveira Biro - CEBI Volta Redonda(RJ)

Profeta Miqueias: seu povo, sua terra e sua proposta.  
Deus pode preencher com o seu amor os nossos corações,
  e permitir que caminhemos juntos em direção à Terra da liberdade e da vida”. 
Papa Francisco ‏@Pontifex_pt  24 de maio 2016 

Miqueias nasceu em Morasti (1,1), é a mesma Morasti-Gat, um arraialzinho do Reino de Judá, próxima da cidade Jerusalém uns 35 quilômetros. Fato importante, que esses dados nos situam num ambiente de interior, ou seja, da roça, o mundo do campesinato, em contato direto com problemas dos pequenos agricultores familiares, vitimas dos grandes donos de terra. O latifúndio. Olhando mais a frente, o arraialzinho de Morasti encontra-se rodeado de fortalezas; em círculos de dez quilômetros; surgem-nos outros arraialzinhos como Azeca, Soco, Adulam; Maresa e Laquês. A presença de militares e funcionários do Rei era frequente naquela região e, pelo que afirma o profeta, essa presença não era vista com bons olhos. Além do pagamento dos altos impostos; trabalhadores eram recrutados forçadamente a fazerem parte do exército para proteger a cidade Jerusalém (cf.3,10). A dominação dos grandes donos de terra, impostos altíssimos, roubos a mão armada por milicianos da época, trabalho escravagista, é o ambiente que se respirava.  
Sobre a posição social do Profeta Miqueias, era considerado “homem do campo (Smith). Homem simples do campo (Sellin), ou até situam nos círculos dos pequenos camponeses donos de rebanho, [que eram] oprimidos (Weiser). Wolf o julga personagem importante, tzaqen (justo) preocupado com as injustiças que sofrem seus irmãos. Seus argumentos não se mostram apodíticos [1] e talvez seja melhor manter o posicionamento de Rudolf: Miqueias pode ter sido camponês pobre, trabalhador do campo ou proprietário de pequenas terras [2]”. 
O livro de Miqueias situa seu profetismo durante os reinados de Joatão, Acaz e Ezequias, entre os anos 740-698. Neste contexto, a injustiça provocada pelos donos de terra (2,1-5) aconteceu em vários momentos neste cenário. De qualquer forma, relativamente, a data de atividade profética de Miqueias, ainda é debatida abertamente, ou seja, ainda não se tem um consenso pelos anos de atuação do profeta. Mas, segundo biblista José Maria Sicre: o texto 1,2-7 tem a Samaria capital do Reino do Norte; escrito entre 722 e 725, quando se inicia o cerco dominado dos Assírios. Por outro lado, temos a tradição do grupo do profeta Jeremias 26,18 que Miqueias atuou no tempo do rei Ezequias. Então podemos indicar como data aproximada da atividade do profeta Miqueias os anos de 727-701[3]. O profeta Isaías também foi contemporâneo do profeta Miqueias.  
A pregação de Miqueias concerne essencialmente á situação da moral religiosa de Judá. A falsa insegurança denuncia o profeta permanecendo fiel a Deus e a seu compromisso. O mal se tornou tão radical que a Samaria e Jerusalém aparecem como personificação do pecado (Mq 1,5).  
Na sua luta, Miqueias aparece como um homem solitário, só diante do povo cujo sofrimento partilha, só diante dos poderosos (sacerdotes, juízes e príncipes, cf. Mq 3), só diante dos profetas cegos que anunciam um futuro de felicidade e facilidade ( Mq 2,6-11 ). Mas enfrentam - os com coragem, e consciente de ser conduzido pelo Espírito do Senhor, que lhe dá a força de cumprir sua missão (Mq 3,8).     
                                                           
NOTAS REFERÊNCIAIS: 
[1] Apodítico: Diz se de uma verdade ou argumento evidentes por si, não necessitando de provas para serem compreendidos e aceitos. (LAPORTE, Ana Maria et al. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, [S.d.], p. 305). http://verbofilosofico.blogspot.com.br/2011/03/apoditico.html <acessado 27 de maio 2016>.
[2] SICRE, José Luiz. Com os pobres da Terra. A Justiça Social dos Profetas de Israel. Tradução de Carlos Feliciano da Silveira. - Santo André. São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda; Paulus Editora, 2011, p. 324.
 [3] SICRE, José Luiz, p.325.   

Valdeci de Oliveira Biro é Pós-Graduado em Especialização Bíblica na Área de Assessoria e Metodologia Pelo CEBI e Faculdade EST: Escola Superior de Teologia Luterana de São Leopoldo-RS.
Membro da ABIB: Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica do Brasil-SP.
Apresenta o Programa especializado em Bíblia: Palavras e Mensagem na Rádio Sintonia do Vale 98,9 FM